Parque Estadual da Lagoa do Açu – história e biodiversidade

Devian Zutter
Produtor de vídeos e ambientalista com larga experiência internacional em produções voltadas para proteção ambiental
Parque Estadual da Lagoa do Açu

No extremo norte do estado do Rio de Janeiro, entre campos de restinga, espelhos d’água e extensões de mata nativa, encontra-se o Parque Estadual da Lagoa do Açu. Criado oficialmente em 20 de março de 2012, por meio do Decreto Estadual nº 43.522, o parque protege aproximadamente 8.251 hectares distribuídos entre os municípios de Campos dos Goytacazes e São João da Barra.

Localizado em uma faixa costeira estratégica, o parque resguarda remanescentes valiosos de ecossistemas ameaçados e atua como elo entre conservação e uso sustentável do território. Entre praias desertas e lagoas cercadas por vegetação nativa, representa um esforço decisivo para manter os últimos redutos de natureza intacta no litoral norte fluminense.

Um parque nascido da urgência ambiental

A criação do Parque Estadual da Lagoa do Açu não foi apenas um ato administrativo, mas uma resposta concreta à degradação crescente que ameaçava os ecossistemas costeiros do norte fluminense. Durante o século XX, o avanço da agricultura, o crescimento urbano desordenado e a intensificação de atividades industriais comprometeram áreas antes contínuas de restinga, manguezal e floresta.

A região, marcada pela presença da Lagoa Feia, da Lagoa do Açu e por um complexo sistema de drenagem natural, demandava ações efetivas de proteção. Nesse cenário, a implantação do Complexo Portuário do Açu — um empreendimento de grande escala com potencial para impactar ecossistemas sensíveis — reforçou a necessidade urgente de estabelecer uma unidade de conservação. O governo estadual, portanto, criou o parque não apenas como medida compensatória, mas também como instrumento de garantia dos serviços ecológicos essenciais para as atuais e futuras gerações.

Desde então, o parque passou a integrar o sistema estadual de áreas protegidas, assumindo um papel estratégico na preservação dos ambientes costeiros e na valorização da paisagem natural do norte do estado.

Diversidade ecológica entre a terra e o mar

A principal riqueza do Parque Estadual da Lagoa do Açu está em sua diversidade de ecossistemas. A unidade abrange desde formações de restinga, típicas de regiões arenosas litorâneas, até campos alagáveis, manguezais e lagoas costeiras. Essa variedade ambiental sustenta uma flora e uma fauna extremamente ricas e adaptadas às condições desafiadoras da zona costeira.

Na vegetação, destacam-se espécies como a quixabeira, o ipê-amarelo, a pitangueira e diversas bromélias e orquídeas nativas. A restinga, embora muitas vezes subestimada, abriga vegetação resistente que atua como barreira natural contra o avanço do mar e a erosão eólica.

A fauna também é expressiva. Animais como tamanduás-mirins, capivaras, ouriços-cacheiros e lontras utilizam os ambientes úmidos do parque como habitat. Além disso, o parque é ponto importante para a observação de aves — mais de 200 espécies já foram registradas na unidade, incluindo garças, socós, biguás, maçaricos e o ameaçado gavião-pato.

Por isso, a conservação desses ambientes é essencial não apenas pela beleza cênica, mas também pelo equilíbrio funcional que oferecem ao ecossistema regional.

Função hídrica e importância climática

O Parque Estadual da Lagoa do Açu exerce um papel de destaque na regulação dos recursos hídricos do norte fluminense. Suas lagoas, áreas alagáveis e vegetação ripária ajudam na recarga de aquíferos, filtragem de sedimentos e regulação do microclima local. Essa função ecológica ganha ainda mais relevância em contextos de estiagens prolongadas e de eventos extremos, que se tornaram mais frequentes nos últimos anos.

A vegetação do parque, especialmente nas áreas de restinga e alagados, contribui para estabilizar o solo e evitar o assoreamento dos corpos d’água. Além disso, ao manter as zonas de transição entre terra firme e ambiente aquático, o parque impede o colapso de habitats que sustentam cadeias alimentares inteiras.

Portanto, proteger essa unidade é investir diretamente na resiliência ecológica de uma das regiões mais suscetíveis aos impactos da Mudança Climática no estado.

Educação ambiental e vínculo com a comunidade

Ao longo dos anos, o Parque Estadual da Lagoa do Açu tem ampliado seu diálogo com as comunidades do entorno. Escolas, associações de pescadores, agricultores familiares e guias locais vêm sendo envolvidos em ações educativas, projetos de capacitação e campanhas de sensibilização.

Grupos escolares da região participam regularmente de trilhas guiadas, oficinas e atividades de campo promovidas pela equipe gestora do parque. Essas ações não apenas disseminam conhecimento sobre a Biodiversidade local, como também fortalecem o vínculo entre população e natureza.

Além disso, moradores que antes viam a criação da unidade com desconfiança passaram a enxergar no parque uma oportunidade de geração de renda, por meio do ecoturismo e de serviços ambientais. A valorização de práticas sustentáveis, como o uso consciente da água e a coleta seletiva, também passou a fazer parte da realidade de várias famílias que vivem nos arredores da unidade.

Trilhas e atrações naturais para todos os públicos

Embora ainda esteja em processo de estruturação turística mais ampla, o Parque Estadual da Lagoa do Açu já oferece experiências únicas aos visitantes. Uma das principais trilhas da unidade leva à margem da lagoa, onde é possível avistar aves, conhecer a vegetação de restinga e caminhar entre campos abertos e pequenos bosques.

Os visitantes também podem explorar trechos da trilha da Pitanga, observar espécies florais raras, fotografar animais em liberdade ou simplesmente contemplar o pôr do sol sobre as águas calmas do parque. As lagoas internas, dependendo das condições climáticas, permitem atividades como caiaque ou stand-up paddle, sempre com orientação adequada.

A observação de aves é um dos grandes atrativos da unidade. Em pontos estratégicos ao longo das trilhas, foram instalados mirantes e áreas de descanso que permitem ao visitante apreciar a natureza com tranquilidade e segurança.

Como visitar e contribuir com a conservação

A entrada no parque é gratuita, e as visitas podem ser feitas todos os dias, das 8h às 17h. Para aproveitar bem o passeio, recomenda-se o uso de roupas leves, calçado fechado, protetor solar e repelente Biodegradável. Levar água potável e lanches também é importante, especialmente nos dias mais quentes.

Durante a visita, é fundamental respeitar as sinalizações, manter o silêncio sempre que possível e jamais alimentar os animais silvestres. Além disso, o lixo gerado deve ser levado de volta, mesmo que seja Biodegradável. Esses gestos simples reforçam a preservação da fauna e da flora e garantem a manutenção da trilha para os próximos visitantes.

Guias ambientais treinados estão disponíveis em datas específicas e podem enriquecer ainda mais a visita com informações detalhadas sobre o ecossistema, a história da unidade e as ações de conservação em andamento.

Conclusão

O Parque Estadual da Lagoa do Açu representa um raro exemplo de equilíbrio entre paisagem natural preservada e oportunidades de desenvolvimento sustentável. Sua criação foi uma resposta direta aos desafios ambientais enfrentados pela região, mas seu valor vai muito além da compensação. Ele simboliza um compromisso coletivo com o futuro, com a Biodiversidade e com o direito de todos à natureza.

Ao conhecer o parque com respeito e consciência, cada visitante se torna parte dessa história. Uma história feita de trilhas entre lagoas e campos, de pássaros sobrevoando manguezais, de resistência ecológica em meio à expansão urbana. É esse elo entre proteção e experiência que transforma o Parque Estadual da Lagoa do Açu em um destino singular no litoral fluminense.

Agir com responsabilidade durante a visita não apenas protege o ambiente, mas também garante que as futuras gerações possam encontrar ali o mesmo silêncio, a mesma vida e a mesma beleza que hoje encantam quem escolhe caminhar por suas trilhas.

Resumo com perguntas frequentes

O que é o Parque Estadual da Lagoa do Açu?



O Parque Estadual da Lagoa do Açu é uma unidade de conservação de proteção integral, criada para preservar ecossistemas de restinga, manguezais e áreas alagadas no norte fluminense.

Quando foi criado o Parque Estadual da Lagoa do Açu?



O Parque Estadual da Lagoa do Açu foi criado em 20 de março de 2012, por meio do Decreto Estadual nº 43.522. Desde então, passou a integrar oficialmente o sistema estadual de unidades de conservação.

Onde está localizado o Parque Estadual da Lagoa do Açu?



O parque está situado nos municípios de Campos dos Goytacazes e São João da Barra, no estado do Rio de Janeiro, abrangendo áreas costeiras e de planície.

Qual é o tamanho do Parque Estadual da Lagoa do Açu?



O parque possui uma área aproximada de 8.251 hectares.

Como posso ajudar na conservação do Parque Estadual da Lagoa do Açu?



Para contribuir com a conservação do Parque Estadual da Lagoa do Açu, é essencial respeitar as trilhas sinalizadas, não descartar resíduos no ambiente e evitar o contato direto com a fauna. Além disso, pequenas atitudes como não fazer fogueiras e manter o silêncio durante a caminhada reforçam a proteção da natureza e garantem uma visita sustentável.

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  • Categoria: Parques Naturais do Rio de Janeiro

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