Carne de Laboratório (in vitro) – O que é e como é produzida?

Carne de laboratório - carne artificial - cultivada ou in vitro

O que é Carne de Laboratório?

Carne de laboratório (artificial), também conhecida como carne cultivada ou carne in vitro, é produzida a partir de células animais cultivadas em um ambiente controlado, sem a necessidade de abate de animais. As células são estimuladas a crescer e se diferenciar em tecido muscular, que é então processado para se assemelhar à carne convencional.

Como surgiu a carne de laboratório?

A ideia de cultivar carne em laboratório tem suas raízes em experimentos científicos do início do século XX. Em 1931, Winston Churchill previu em um ensaio que, no futuro, seria possível cultivar partes de um animal para consumo humano sem a necessidade de criar e abater o animal inteiro. Sim, estamos falando de Winston Churchill, o famoso estadista britânico que foi Primeiro-Ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial.

Além de seu papel político, Churchill também era um escritor prolífico e fez várias previsões futuristas em seus escritos. Em 1931, ele escreveu um ensaio intitulado “Fifty Years Hence” onde abordou diversas inovações tecnológicas que ele acreditava que moldariam o futuro, incluindo a ideia de carne cultivada em laboratório​, segundo o National Churchill Museum e o International Churchill Society.

No entanto, apenas em 1971 que o conceito começou a ganhar forma com a pesquisa do cientista holandês Willem van Eelen, hoje considerado um dos pioneiros no campo da carne cultivada. Van Eelen teve a visão de criar carne cultivada em laboratório após testemunhar a fome e a destruição causadas pela Segunda Guerra Mundial.

Carne de laboratório - carne in vitro
Carne de laboratório

Desenvolvimentos Científicos e Tecnológicos da carne artificial

Década de 1990 e Início dos Anos 2000

Nos anos 1990, a tecnologia de cultura de células avançou significativamente, especialmente em áreas como a medicina regenerativa. Esses avanços abriram caminho para a aplicação da cultura de células na produção de carne.

Em 2001, a NASA financiou pesquisas para cultivar carne em laboratório como um potencial fonte de alimento para astronautas em missões espaciais de longa duração. As pesquisas mostraram que era possível cultivar pequenos pedaços de tecido muscular a partir de células de peru.

Primeiro Hambúrguer Cultivado

Em 2013, a primeira carne cultivada surgiu ao público em um evento em Londres. O primeiro hambúrguer foi criado por uma equipe de cientistas liderada pelo Dr. Mark Post, professor da Universidade de Maastricht, na Holanda. O hambúrguer foi cultivado a partir de células-tronco bovinas e financiado por Sergey Brin, co-fundador do Google. A criação do hambúrguer custou cerca de 330 mil dólares, destacando o alto custo da tecnologia na época.

Evolução e Comercialização da carne in vitro

Desde 2013, houve um aumento significativo no interesse e investimento em carne cultivada. Várias startups temo como objetivo tornar a carne cultivada economicamente viável e acessível ao público em geral. Por exemplo: empresas como Mosa Meat, Memphis Meats (agora Upside Foods), Aleph Farms e Just Eat (agora Eat Just) têm liderado o desenvolvimento e a inovação no campo.

Pois ebm, em 2020, a empresa Eat Just obteve a primeira aprovação regulatória para vender carne cultivada ao público em Singapura. Esta foi uma conquista significativa, marcando o início da comercialização da carne de laboratório.

Importância da carne de laboratório

A produção de carne de laboratório pode reduzir significativamente o uso de terra e água, além de diminuir as emissões de gases de efeito estufa associadas à pecuária tradicional.

Além disso, a carne de laboratório elimina a necessidade de criar e abater animais, abordando preocupações éticas relacionadas ao bem-estar animal.

Segurança Alimentar: Pode proporcionar uma fonte estável e controlada de proteína animal, reduzindo a dependência de práticas agrícolas intensivas e vulneráveis a mudanças climáticas e doenças.

Desafios da produção de carne de laboratório

A produção em larga escala ainda é um desafio tecnológico e econômico. É necessário desenvolver métodos eficientes e rentáveis para cultivar células em massa.

Além disso, como todo novo tipo de produto, ainda há resistência e desconfiança por parte dos consumidores, que podem ter preocupações sobre segurança alimentar, sabor e questões éticas relacionadas à “naturalidade” dos alimentos.

Por isso, regulamentar a carne cultivada apresenta desafios, pois envolve novas categorias de alimentos que dependem de avaliações de segurança e rotulagem.

Como se produz a carne de laboratório (carne in vitro)?

Coleta de células para produção de carne in vitro

A produção de carne de laboratório, também conhecida como carne cultivada, envolve várias etapas científicas e tecnológicas. Aqui está um resumo do processo:

1- O processo começa com a coleta de células-tronco ou células satélites (células precursoras de músculos) de um animal vivo. Faz-se a coleta por meio de uma biópsia minimamente invasiva.

2- Os cientistas preferem as células-tronco por sua capacidade de se diferenciar em vários tipos de células, incluindo células musculares e adiposas (gordura).

Cultura de Células

As células coletadas para fazer carne de laboratório são colocadas em um meio de cultura rico em nutrientes, que contém aminoácidos, açúcares, vitaminas, minerais e fatores de crescimento. Este meio fornece os componentes necessários para o crescimento e proliferação das células.

As células ficam mantidas em condições controladas dentro de um biorreator, onde se multiplicam rapidamente. O biorreator é um ambiente estéril que controla a temperatura, pH, e níveis de oxigênio e dióxido de carbono.

Diferenciação e Formação de Tecido

Pois bem, os cientistas adicionam então, fatores de crescimento específicos ao meio de cultura para induzir a diferenciação das células em células musculares, adiposas e outras necessárias para formar o tecido muscular.

Então, as células diferenciam-se e começam a se organizar em estruturas tridimensionais que mimetizam a textura e a composição da carne. Neste caso, Scaffoldings (andaimes) biodegradáveis podem ser usados para fornecer uma estrutura sobre a qual as células podem crescer, formando fibras musculares.

Maturação e Colheita de células para fazer carne (artificial) em laboratório

Nesta faze, as estruturas celulares ficam amadurecendo, permitindo assim que as células se diferenciem completamente e desenvolvam as características sensoriais da carne, como textura e sabor. Então, após a maturação, o tecido muscular cultivado é colhido e processado para criar produtos de carne, como hambúrgueres, almôndegas ou filés.

Processamento Final

Adiciona-se ingredientes adicionais, como gorduras, aromatizantes e texturizantes para aprimorar o sabor e a textura, tornando o produto final mais semelhante à carne convencional. A carne cultivada é então moldada nos formatos desejados, embalada e preparada para distribuição e consumo.

Impactos positivos e negativos da carne artificial in vitro no Futuro da Alimentação

Impactos Positivos da Produção de Carne de laboratório (artificial)

  • Sustentabilidade Ambiental: A carne cultivada (ou carne de laboratório) pode produzir significativamente menos emissões de gases de efeito estufa em comparação com a pecuária tradicional. Além disso, tem menor necessidade de terra e água, contribuindo assim para a preservação de habitats naturais e a redução do desmatamento. Principalmente, a diminuição da poluição de solos e águas causada por dejetos animais e uso de fertilizantes e pesticidas na produção de alimentos para gado.
  • Bem-Estar Animal: A carne cultivada elimina a necessidade de abater animais, abordando preocupações éticas sobre o tratamento dos animais. Pois bem, reduz a necessidade de manter animais em confinamento e em condições intensivas.
  • Segurança Alimentar: Produção em ambientes controlados pode reduzir o risco de contaminação por patógenos, como Salmonella e E. coli. Além disso, pode oferecer uma fonte mais estável de carne, menos vulnerável a doenças animais e flutuações climáticas.
  • Inovação e Economia: A produção de carne de laboratório (carne cultivada), pode gerar o desenvolvimento de novas indústrias e tecnologias, criando empregos e oportunidades de pesquisa e desenvolvimento. Principalmente, oferece alternativas à produção tradicional de carne, diversificando as opções alimentares disponíveis.

Desafios para a Produção de Carne de laboratório (artificial)

1- Desafios Tecnológicos e Econômicos

Atualmente, o custo de produção da carne cultivada é alto, dificultando sua competitividade com a carne tradicional. Por isso, aumentar a produção para níveis comerciais ainda é um desafio significativo.

2- Aceitação do Consumidor

Claro, pode haver resistência, bem como desconfiança por parte dos consumidores em relação à “naturalidade” e segurança da carne cultivada. Assim, barreiras e preferências culturais e tradicionais podem dificultar a aceitação em certas regiões.

3- Impacto Econômico na Pecuária Tradicional

Evidentemente que a transição para carne cultivada pode levar à perda de empregos na indústria pecuária tradicional. Sendo assim, comunidades que dependem da pecuária podem enfrentar dificuldades econômicas.

4- Regulamentação e Segurança

Além disso, o processo de aprovação regulatória, complexo e demorado, conta com questões de segurança e rotulagem a serem resolvidas. Portanto, os impactos de longo prazo sobre a saúde humana e o meio ambiente ainda não estão totalmente compreendidos.

5- Dependência Tecnológica

Pode aumentar a dependência de tecnologias avançadas e de empresas específicas, limitando a acessibilidade em países em desenvolvimento.

Mesmo assim, a carne artificial (de laboratório ou cultivada) tem o potencial de transformar positivamente o futuro da alimentação. Porém, ainda enfrenta desafios significativos que, superados, podem garantir sua viabilidade e aceitação ampla.

Desafios e Futuro da carne de laboratório

A produção em larga escala e a redução dos custos continuam a ser os principais desafios. No entanto, avanços contínuos na biotecnologia, economia de escala e melhorias nos processos de cultura de células estão ajudando a tornar a carne cultivada uma alternativa viável à carne tradicional.

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