Reforma agrária estrutural – caminho profundo para mudo o campo

Luzia Martinez
Licenciada em História pela UFOP, Mestra em Educação e Tecnologias Digitais pela Universidade de Lisboa e Especialista em Docência no Ensino Superior pelo Senac.

Mais do que dividir terras, a reforma agrária estrutural propõe reconstruir o campo — e com ele, a própria ideia de justiça social.

“A reforma agrária estrutural não é apenas uma política agrícola: é uma medida civilizatória, que resgata a dignidade no campo.”João Pedro Stédile, economista e membro da coordenação nacional do MST.

O Que é Reforma Agrária Estrutural?

A Reforma Agrária Estrutural, também conhecida como Reforma Agrária Clássica, é uma política pública de redistribuição de terras improdutivas, com o objetivo de democratizar o acesso à terra, promover justiça social e, assim, melhorar as condições de vida no campo. Diferente de reformas superficiais, essa abordagem visa mudar profundamente a estrutura fundiária concentradora, típica de países como o Brasil.

Em outras palavras, é uma estratégia essencial para combater a desigualdade histórica gerada pelo latifúndio, herança direta do período colonial e escravocrata.

De acordo com dados do IBGE (2022), apenas 1% dos proprietários rurais controlam quase 47% das terras agricultáveis do país. Essa desigualdade estrutural alimenta a pobreza rural, o êxodo urbano e a degradação ambiental.


Raízes históricas da desigualdade fundiária no Brasil

  • Colonialismo e sesmarias: O modelo de concentração de terras surgiu com a distribuição de sesmarias a poucos proprietários pela coroa portuguesa.
  • Abolição sem reparação: Após a abolição da escravatura em 1888, os libertos não receberam acesso à terra, perpetuando assim a sua exclusão social.
  • Modernização agrícola excludente: A Revolução Verde nos anos 1960 introduziu a mecanização, marginalizando pequenos agricultores e acelerando o êxodo rural.
  • Conflitos no campo: A falta de reforma agrária efetiva tem gerado conflitos violentos por terra em todo o país. De 1985 a 2023, mais de 2.000 trabalhadores rurais foram assassinados em disputas agrárias, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Como Funciona a Reforma Agrária Estrutural?

A reforma agrária estrutural envolve ações coordenadas de desapropriação, reassentamento, assistência técnica, financiamento agrícola e infraestrutura. Não se trata apenas de entregar terra, mas de garantir meios de produção e cidadania no campo.

Principais Pilares da Reforma Agrária Estrutural:

  1. Identificação e desapropriação de latifúndios improdutivos
  2. Redistribuição com base na função social da terra (CF/88, art. 186)
  3. Assistência técnica e extensão rural
  4. Crédito agrícola acessível
  5. Educação do campo e fortalecimento da agricultura familiar
  6. Planejamento ecológico do uso da terra – com foco em práticas regenerativas e agroecológicas

Impactos Positivos da Reforma Agrária Estrutural

Redução da desigualdade social: Estudos do IPEA mostram que a reforma agrária pode reduzir o índice de Gini rural em até 40%.

Segurança alimentar: Assentamentos da reforma agrária produzem cerca de 70% dos alimentos consumidos no Brasil, de acordo com o IBGE.

Fixação do homem no campo: Ao garantir dignidade e renda, evita o êxodo rural e a urbanização descontrolada.

Regeneração ambiental: Ao aplicar princípios da agroecologia e recuperação de áreas degradadas, os assentamentos podem se tornar territórios de resiliência climática.

Valorização da cultura camponesa: Mantém vivas tradições, saberes ancestrais e modos de vida sustentáveis.


    Reforma Agrária Estrutural e Sustentabilidade

    A reforma agrária, quando pensada de forma ecológica, contribui diretamente para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), principalmente:

    Além disso, estudos de caso em assentamentos agroecológicos (ex: Assentamento Normandia, PE) mostram que práticas sustentáveis como a agrofloresta, compostagem, reflorestamento e policulturas restauram solos degradados e aumentam a biodiversidade.


    Desafios e Críticas à Reforma Agrária Clássica

    Apesar de seus benefícios, a reforma agrária enfrenta diversos entraves, como, por exemplo:

    • Falta de vontade política: Governos liberais e conservadores geralmente priorizam o agronegócio.
    • Infraestrutura precária nos assentamentos: Muitos não têm acesso à água potável, energia ou escolas.
    • Desinformação e criminalização: Movimentos sociais são frequentemente retratados como invasores ou ameaças.
    • Pressão do agronegócio: Grupos de poder ligados ao latifúndio atuam politicamente para manipular, bem como manter o status quo.

    Mesmo assim, o modelo estrutural permanece como uma das principais ferramentas de justiça climática, social e ambiental no país.


    Comentários de Especialistas sobre a reforma agrária estrutural

    “A reforma agrária não é uma utopia, é uma necessidade estrutural para transformar o Brasil em uma nação verdadeiramente democrática.”Darci Frigo, advogado de direitos humanos e coordenador da Terra de Direitos.

    “Só a agricultura familiar e agroecológica, fortalecida por uma reforma agrária justa, é capaz de alimentar o mundo sem destruir o planeta.”Vandana Shiva, física e ecofeminista indiana, referência mundial em soberania alimentar.


    Conclusão: Um Novo Futuro é Possível

    A Reforma Agrária Estrutural deve ser entendida como um passo essencial para reconstruir uma relação equilibrada entre ser humano, terra e natureza. Não se trata apenas de corrigir uma injustiça histórica, mas de construir um modelo de desenvolvimento verdadeiramente sustentável, no qual a terra cumpra sua função social, econômica e ecológica.

    Em conclusão, se integrada a políticas de agroecologia, bioeconomia e soberania alimentar, a reforma agrária pode ser o motor de uma transição ecológica justa – com inclusão socialequilíbrio climático e proteção da biodiversidade.


    Sugestões de melhoria para a reforma agrária estrutural

    • Atualização dos dados do INCRA e IBGE em tempo real para acompanhamento da distribuição fundiária.
    • Ampliação de políticas públicas de crédito e assistência técnica ecológica para assentamentos.
    • Criação de zonas de regeneração ambiental dentro dos assentamentos.
    • Incentivo à certificação participativa e feiras agroecológicas locais.

      Resumo com Perguntas e Respostas

      O que é a reforma agrária estrutural?

      É um processo de redistribuição de terras com o objetivo de corrigir desigualdades sociais e econômicas históricas no campo.

      Qual a diferença entre reforma agrária clássica e agroecológica?

      A reforma agrária estrutural ou clássica foca na redistribuição fundiária; a agroecológica incorpora práticas sustentáveis de produção, bem como de regeneração ambiental.

      A reforma agrária estrutural prejudica o agronegócio?

      Não necessariamente. Pode coexistir com ele, desde que haja limites à concentração fundiária e respeito à função social da terra.

      Por que há tanta resistência política à reforma agrária?

      Porque ameaça interesses de elites rurais, que historicamente controlam a terra e o poder político no Brasil.

      Reforma agrária pode ser uma solução climática?

      Sim. Uma vez que, ao promover agroecologia e recuperação de áreas degradadas, reduz emissões e aumenta a resiliência dos territórios.


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