Quais os limites do nosso planeta – Quanto é capaz de suportar?

O que são os Limites Planetários?

Limites planetários, também conhecidos como fronteiras planetárias, é um conceito científico que define os limites dentro dos quais a humanidade pode operar para garantir que a Terra continue a ser um sistema seguro e habitável. Esses limites foram propostos por um grupo de cientistas liderados por Johan Rockström, do Stockholm Resilience Centre, e Will Steffen, em 2009.

Comentários dos criadores do termo

Johan Rockström – Cientista Ambiental e um dos Criadores do Conceito de Limites Planetários

“Estamos ultrapassando os limites de resiliência do planeta. A ciência agora fornece evidências convincentes de que a humanidade está operando fora das zonas seguras. A degradação da biosfera e as mudanças climáticas estão aproximando o planeta de pontos de inflexão que podem ter consequências catastróficas para a civilização.”

Significado: Johan Rockström alerta que a ultrapassagem dos limites planetários, como a mudança climática e a perda de biodiversidade, está colocando em risco a estabilidade dos sistemas naturais da Terra, dos quais a humanidade depende para sua sobrevivência. Ele enfatiza a necessidade urgente de retornar a esses limites para garantir um futuro sustentável.

Will Steffen – Cientista do Sistema da Terra e Coautor do Conceito de Limites Planetários

“O conceito de limites planetários é uma abordagem para definir uma ‘margem de segurança’ para o sistema da Terra. No entanto, a ciência mostra que já ultrapassamos quatro dos nove limites. A continuidade dessa trajetória comprometerá a capacidade do planeta de sustentar a civilização humana como a conhecemos.”

• Significado: Will Steffen destaca que o conceito de limites planetários oferece uma estrutura para entender as pressões humanas sobre o sistema da Terra. Ele adverte que a ultrapassagem contínua desses limites coloca em risco a habitabilidade do planeta, sugerindo assim que mudanças significativas nas práticas globais são necessárias para evitar um colapso ambiental.

Planeta sob Pressão – no limite planetário

Bom, sabemos que a Terra está sob pressão. Afinal, quase todas as invenções da humanidade, todos os sistemas, sejam agrícolas, de produção ou de transporte, principalmente a nossa maneira de consumir e viver, além de ser parte do que nos define hoje como seres humanos, funcionam e se desenvolvem às custas dos sistemas ecológicos.

E essa relação está mais do que desequilibrada. Isso quer dizer que consumimos os recursos vindos da Terra em um ritmo muito acima do que o sistema natural do planeta consegue suportar. 

Atualmente, estamos usando a Terra 1,7 vezes mais rápido do que os ecossistemas podem regenerá-la, de acordo com a Global Footprint Network.

Por isso, em 2009, 28 pesquisadores reconhecidos globalmente estruturaram e desenvolveram um conjunto de nove fronteiras planetárias. E o que isso significa?

De onde vem o termo Limites Planetários?

O termo, cunhado por Johan Rockström e seu time de pesquisadores em 2009, descreve nove fronteiras dentro das quais a humanidade pode continuar a se desenvolver e prosperar. Estas fronteiras planetárias, também chamados de limites planetários, incluem por exemplo mudanças climáticas, integridade da biosfera, fluxos biogeoquímicos, acidificação dos oceanos e outros. Ultrapassar esses limites pode levar a mudanças abruptas e irreversíveis no sistema terrestre.

Quais são os Limites Planetários?

O conceito identifica nove processos fundamentais do sistema terrestre que são cruciais para a estabilidade e resiliência da Terra. Esses processos são:

1. Mudança Climática
2. Perda da Biodiversidade
3. Ciclos Biogeoquímicos (Nitrogênio e Fósforo)
4. Mudanças no Uso do Solo
5. Acidificação dos Oceanos
6. Camada de Ozônio Estratosférica
7. Uso Global da Água Doce
8. Carga de Aerossóis na Atmosfera
9. Introdução de Novas Entidades (Poluição Química, incluindo plásticos e resíduos nucleares)

Vamos conhecer melhor cada um deles? Assim, podemos entender que a questão não é se a Terra pode suportar a pressão, mas quão bem podemos adaptar nossas práticas para manter a vitalidade do nosso planeta. Será que isso é possível?

1. Limites Planetários: As Mudanças Climáticas: um caso alarmante

Pois bem, a mudança climática é uma das fronteiras planetárias mais urgentes que estão sendo transgredidas.

Segundo o Quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a atividade humana já causou um aquecimento de aproximadamente 1,0°C acima dos níveis pré-industriais.

2. Acidificação dos Oceanos – crise subaquática que impacta toda a sustentabilidade – estamos no limite do planeta

O limite planetário da acidificação dos oceanos está sendo ultrapassado em um ritmo alarmante. Resultado direto das crescentes emissões de dióxido de carbono (CO2) causadas pelas atividades humanas.

Alarmante!

Dados do Programa Internacional sobre o Estado dos Oceanos (IPSO) indicam que a acidez dos oceanos aumentou cerca de 30% desde o início da Revolução Industrial. A previsão é de que a acidez possa aumentar em até 150% até o final deste século, um ritmo não observado nos últimos 300 milhões de anos.

3. Limites Planetários – Degradação da Camada de Ozônio, uma ameaça invisível

A camada de ozônio, localizada na estratosfera, desempenha uma função vital em proteger a vida na Terra contra a radiação ultravioleta (UV) prejudicial do Sol. Entretanto, os compostos de cloro e bromo, em particular os clorofluorcarbonos (CFCs), são os principais causadores do esgotamento da camada de ozônio.

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Em 2021, o buraco na camada de ozônio sobre o Polo Sul ficou maior do que 75% das vezes registradas desde 1979, o que é um risco para os limites planetários. 

4. Perturbação dos Ciclos Biogeoquímicos- efeitos desconhecidos desse limite planetário

Os ciclos biogeoquímicos são processos naturais que reciclam nutrientes na Terra. Entre os mais importantes estão o ciclo do carbono, do nitrogênio, do fósforo e do enxofre. Eles mantêm a vida na Terra, permitindo assim a transferência de moléculas entre os organismos vivos e o ambiente.

Um exemplo desse efeito em escala regional é o declínio na captura de camarão na ‘zona morta’ do Golfo do México, causado por fertilizantes transportados em rios do meio oeste dos Estados Unidos.

5. A Precariedade da Água Doce – um limite planetário crítico

A água doce é um dos recursos mais preciosos do nosso planeta, mas também é um dos mais ameaçados.

Segundo a ONU, aproximadamente 4 bilhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso a serviços de água potável gerenciados de maneira segura, e as projeções indicam que até 2050, pelo menos uma em cada quatro pessoas provavelmente viverá em um país afetado por escassez crônica ou recorrente de água doce.

Nossa dependência da água doce para consumo humano, agricultura e produção industrial coloca pressão significativa sobre esse recurso tão importante para a nossa existência.

O que a ONU faz a respeito disso? Água Potável e Saneamento – ODS 6: um direito que precisa ser de todos

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6. A Mudança no Uso da Terra – um limite do planeta além da sustentabilidade

A mudança no uso da terra, principalmente devido à expansão da agricultura e da urbanização, é um dos principais limites planetários que estamos ultrapassando.

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) relata que mais de 75% da superfície terrestre foi significativamente alterada pelos seres humanos, principalmente para agricultura.

7. A Perda da Biodiversidade: um sinal de alerta para os limites planetários

A Avaliação Ecossistêmica do Milênio aconteceu entre 2001 e 2005. Ela concluiu que as mudanças nos ecossistemas a partir das atividades humanas foram mais rápidas nos 50 anos anteriores do que em qualquer momento da história.

Por isso, a perda da biodiversidade é mais uma dos limites planetários que já ultrapassamos. E como a vida em nosso planeta depende de uma variedade incrível de espécies, quando essa variedade é perturbada, todo o ecossistema pode ser desestabilizado.

Segundo o relatório de 2019 da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), cerca de 1 milhão de espécies animais e vegetais estão atualmente ameaçadas de extinção.

8. Poluição Química: uma bomba relógio invisível

Quando discutimos as fronteiras planetárias (limites planetários), muitas vezes passamos por alto um perigo invisível: a poluição química. Em nosso mundo moderno, os produtos químicos sintéticos estão em toda parte, desde os pesticidas usados na agricultura até os produtos de limpeza domésticos, assim como os plásticos que inundam nossos oceanos.

Embora possam ser benéficos em muitos aspectos, os produtos químicos também têm um lado sinistro: eles podem causar danos sérios à saúde humana e ao meio ambiente.

Por exemplo, a poluição química foi a causa de reduções dramáticas nas populações de pássaros, reprodução e desenvolvimento de mamíferos marinhos.

9. Aerossóis na Atmosfera: inimigos invisíveis

Em resumo, os aerossóis são partículas minúsculas suspensas no ar, provenientes de fontes naturais e humanas. Eles podem ser de origem direta, como fuligem de queima de biomassa e combustíveis fósseis, ou indireta, como os aerossóis secundários formados por reações químicas na atmosfera.

Assim, o limite planetário de aerossóis atmosféricos foi proposto principalmente por causa da influência deles no sistema climático da Terra. 

Segundo a OMS, nove em cada dez pessoas no mundo respiram ar poluído e contaminado, e todos os anos morrem sete milhões de pessoas por causas diretamente relacionadas com a poluição.

Mas afinal, será que existe saída para o nosso planeta?

Como deu para notar, as fronteiras planetárias (limites planetários) são reais e as consequências de ignorá-las são severas. Tão severas que pode decretar o fim da humanidade.

Por isso, devemos repensar nossas estratégias e incorporar soluções inovadoras para mitigar os efeitos das nossas ações nos limites planetários. Aqui estão algumas ações que podemos tomar:

• Mudança para energias renováveis: investir em tecnologias de energia renovável pode ajudar a reduzir a dependência de combustíveis fósseis, bem como limitar a emissão de gases de efeito estufa.

• Conservação da biodiversidade: precisamos proteger e preservar a biodiversidade, implementando leis de conservação mais rigorosas e criando mais áreas protegidas.

• Reciclagem e reutilização: devemos adotar uma mentalidade de economia circular. Assim, podemos reutilizar e reciclar os materiais, minimizando o desperdício e a poluição.

• Agricultura sustentável: a promoção de práticas agrícolas sustentáveis pode ajudar a minimizar a mudança do uso da terra e a perda da biodiversidade.

• Conscientização pública: precisamos aumentar a conscientização sobre a importância da sustentabilidade e os limites planetários. A educação é uma ferramenta crucial para promover comportamentos sustentáveis.

Portanto, estas são algumas ações que refletem a necessidade de um esforço coletivo e global para enfrentar os desafios que os limites planetários nos apresentam. Mas, será que conseguimos agir pensando no bem comum?

O interesse humano e a sustentabilidade do planeta

É impossível ignorar a grande disparidade entre o que é necessário para garantir a sobrevivência do nosso planeta e o que está sendo realmente feito. Enfim, apesar das evidências científicas claras, como mostrei para você neste artigo, e da emergência declarada, a humanidade continua se apegando a comportamentos destrutivos, dando prioridade a interesses de curto prazo em detrimento do futuro do planeta.

E para piorar, aqueles que têm poder e recursos para impulsionar mudanças significativas muitas vezes parecem estar mais interessados em preservar seu status quo, do que em investir em soluções de longo prazo. Infelizmente, essa perspectiva é, no mínimo, míope e, no pior dos casos, é, portanto, desastrosa para a sobrevivência de todas as espécies, incluindo a nossa.

Implementação de novas medidas

Sem dúvida, a implementação de medidas que respeitem os limites planetários requer uma mudança fundamental em nossos sistemas econômicos e políticos. Contudo, a prevalência do interesse próprio e a resistência à mudança são obstáculos que dificultam esse progresso.

Mas, devemos lembrar que os limites planetários são inegociáveis. Eles não se curvam à política ou à economia. Não se importam com fronteiras nacionais ou com a riqueza de uma nação. Eles simplesmente existem e assim, se transgredidos, irão resultar em consequências que não podemos controlar nem prever totalmente.

Portanto, é mais que urgente que reavaliemos nossas prioridades e tomemos medidas decisivas para respeitar e proteger os limites do nosso planeta. Caso contrário, teremos de enfrentar as graves consequências de nossa negligência e auto interesse.

O tempo para a ação é agora. Então, não podemos mais nos dar ao luxo de adiar ou minimizar a urgência dessa crise.

Resumo dos 9 Limites planetários

1- Mudança Climática

Refere-se à concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, principalmente dióxido de carbono (CO₂), que deve ser mantida abaixo de certos níveis para evitar alterações climáticas catastróficas. A linha limite aqui é a concentração de CO₂ de 350 partes por milhão (ppm), mas atualmente já ultrapassamos 420 ppm.

2- Perda da Biodiversidade

A taxa de extinção de espécies é um indicador crítico. A taxa natural é de 10 extinções por milhão de espécies por ano, mas o atual ritmo de extinção é muito maior, ameaçando a resiliência dos ecossistemas.

3- Interferência nos Ciclos do Nitrogênio e do Fósforo

O uso excessivo de fertilizantes está levando à poluição dos sistemas aquáticos e terrestres, criando zonas mortas nos oceanos e alterando os ecossistemas.

4- Mudança no Uso da Terra

Refere-se à conversão de florestas, savanas e outras áreas naturais em áreas agrícolas ou urbanas. Manter pelo menos 75% da vegetação original é considerado necessário para a estabilidade do sistema terrestre, mas já ultrapassamos esse limite em muitas regiões.

5- Acidificação dos Oceanos

O aumento do CO₂ na atmosfera também acidifica os oceanos, afetando a vida marinha, especialmente organismos com conchas de carbonato de cálcio. O limite seguro é uma redução do pH em não mais do que 0,1 unidade em relação aos níveis pré-industriais.

6- Depleção da Camada de Ozônio

A camada de ozônio protege a Terra da radiação ultravioleta nociva. Graças a esforços internacionais, como o Protocolo de Montreal, o buraco na camada de ozônio está em recuperação, mas ainda requer monitoramento constante.

7- Carga de Aerossóis na Atmosfera

Refere-se à quantidade de partículas suspensas na atmosfera, que podem afetar o clima e a saúde humana. A influência precisa dos aerossóis é complexa, mas seu excesso pode alterar padrões climáticos e reduzir a qualidade do ar.

8- Poluição Química

A introdução de novos compostos químicos na natureza, incluindo metais pesados e resíduos radioativos, pode ter efeitos tóxicos persistentes. Este é um dos limites menos quantificados, mas potencialmente perigoso.

9- Disponibilidade de Água Doce

O uso excessivo de água doce para agricultura, indústria e consumo doméstico pode levar à escassez de água em várias regiões do mundo. O limite é o uso de água doce que não comprometa os fluxos de água necessários para os ecossistemas.

Perguntas frequentes

Referências de pesquisa para limites planetários

Organizações Internacionais

• Banco Mundial
• Organização das Nações Unidas (ONU)
• Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)

Institutos de Pesquisa

• Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
• Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
• Centro de Estudos da Condição Urbana, Social e Ambiental da Região Metropolitana de São Paulo (CEM)

Relatórios Governamentais

• Ministério da Economia
• Ministério do Meio Ambiente
• Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações

• Herança Sustentável – Que planeta vamos deixar aos nossos filhos?

• Que filhos vamos deixar ao planeta? Estamos no caminho certo?