Injustiças Socioambientais: quando o preço da degradação é cobrado dos que menos poluem
“Enquanto uns lucram com a destruição, outros pagam com a própria vida pelo direito de respirar, plantar ou beber água limpa.” Essas são apenas algumas das consequências das injustiças socioambientais.
“A crise climática não afeta a todos igualmente. O que chamam de desastre natural é, muitas vezes, o resultado de políticas sociais injustas.” — Sunita Narain, ambientalista e diretora do Centre for Science and Environment (Índia).
O que são injustiças socioambientais?
As injustiças socioambientais ocorrem quando os impactos ambientais negativos — como poluição, desmatamento, escassez de água ou desastres climáticos — afetam de forma desproporcional populações já socialmente vulneráveis, como povos indígenas, quilombolas, comunidades periféricas, ribeirinhos e trabalhadores rurais.
Essas injustiças revelam que a crise ambiental não é apenas ecológica, mas profundamente social, econômica e racial.
Exemplos concretos de injustiça socioambiental no Brasil
- Povos indígenas expulsos por empreendimentos de mineração e agronegócio, mesmo vivendo em territórios ancestrais;
- Deslizamentos em morros e enchentes em periferias urbanas, onde há falta de infraestrutura e moradia digna;
- Contaminação de rios por rejeitos de mineração (como em Brumadinho e Mariana), afetando milhares de famílias e comunidades pesqueiras;
- Comunidades quilombolas cercadas por monoculturas, convivendo com pulverização aérea de agrotóxicos;
- Secas prolongadas no semiárido e no Cerrado, causadas pelo desmatamento e mudanças climáticas, que afetam pequenos agricultores e dificultam a subsistência.
Dados atualizados sobre injustiças socioambientais (2025)
Com base em dados do MapBiomas, Fiocruz, IBGE e Relatórios da ONU, ou seja, de fontes confiáveis:
- 85% das áreas mais impactadas por desastres climáticos estão em territórios de baixa renda;
- Mais de 50% da população negra vive em regiões com alto risco socioambiental urbano (como, por exemplo, os alagamentos, o lixo a céu aberto, a falta de saneamento);
- 70% dos conflitos ambientais registrados em 2024 atingiram comunidades indígenas, quilombolas ou camponesas;
- O Brasil é o país com maior número de assassinatos de defensores ambientais no mundo, segundo a Global Witness (2024).
De fato, esses dados escancaram o que se chama de racismo ambiental: a distribuição desigual dos riscos e da degradação ambiental.
Causas das injustiças socioambientais
1. Racismo estrutural e ambiental
No racismo estrutural, os povos racializados são historicamente marginalizados no acesso à terra, à água, à moradia e ao poder político. Ou seja, isso os torna mais vulneráveis aos danos ambientais.
2. Concentração de poder e recursos
Grandes empreendimentos, como, por exemplo, as mineradoras e o agronegócio, ocupam territórios que pertencem a populações tradicionais, expulsando-as ou degradando seu ambiente.
3. Políticas públicas desiguais
Faltam investimentos em saneamento básico, moradia digna e adaptação climática nas regiões mais vulneráveis — geralmente periféricas e racializadas.
4. Modelo de desenvolvimento predatório
O Brasil ainda segue uma lógica extrativista e exportadora, baseada em monoculturas, mineração e megaprojetos que beneficiam poucos e prejudicam muitos.
Consequências das injustiças socioambientais
- Doenças respiratórias, intoxicações, desnutrição e transtornos mentais nas populações expostas.
- Aumento da migração forçada por desastres climáticos e perda de territórios tradicionais.
- Criminalização e assassinato de lideranças que defendem a terra e a vida.
- Rompimento de modos de vida ancestrais (como, por exemplo, a pesca artesanal, os roçados comunitários, o extrativismo sustentável).
Redução da biodiversidade e das culturas alimentares locais.
Caminhos contra as injustiça socioambientais
1. Reconhecer os direitos territoriais dos povos originários e tradicionais
Demarcar terras indígenas e quilombolas, assim como regularizar territórios camponeses, ribeirinhos e de fundo de pasto.
2. Implementar políticas de justiça climática
Investir em saneamento, infraestrutura verde e adaptação climática nas periferias, ou seja, justiça climática. Além disso, priorizar ações que combinem combate à pobreza e preservação ambiental.
3. Fortalecer a agroecologia e os saberes tradicionais
Garantir financiamento e assistência técnica para práticas sustentáveis baseadas no respeito à natureza e à cultura local, como por exemplo, a agroecologia e os saberes tradicionais.
4. Responsabilizar empresas por crimes ambientais
Aplicar leis com rigor, criar tribunais ambientais e garantir reparação para comunidades afetadas. Ou seja, cobrar a responsabilidade social corporativa para diminuir as injustiças socioambientais.
5. Promover educação ambiental crítica e inclusiva
Valorizar a relação entre ambiente, raça, gênero e classe, Principalmente, incluir a justiça ambiental nos currículos escolares e universitários, implementando a educação ambiental crítica, com conscientização.
Exemplos de resistência e justiça ambiental no Brasil
- MST e suas práticas agroecológicas nos assentamentos.
- APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) em defesa de seus territórios.
- Movimento pelas Águas do Cerrado, enfrentando a privatização de rios.
- Coletivo de Mulheres Negras Quilombolas de Pernambuco, combatendo a pulverização de agrotóxicos e o racismo ambiental.
- Rede de Justiça Climática: promovendo litígios ambientais e campanhas públicas.
Em conclusão
As injustiças socioambientais são a face mais cruel da desigualdade estrutural no Brasil. Elas revelam que, embora a crise ambiental atinja a todos, ela fere com mais força quem tem menos acesso a terra, poder e direitos. Superá-las exige muito mais do que ações ecológicas: requer justiça social, reparação histórica e transformação estrutural do modelo de desenvolvimento.
Por fim, a natureza pede socorro, mas as periferias gritam primeiro. Por isso, compartilhe essa postagem e ajude a conscientizar mais pessoas. Seja Eco você tambem!
Perguntas e respostas para reflexão crítica
É produzida. Os maiores emissores poluem por lucro, mas os mais pobres sofrem as consequências.
Sim. Uma vez que, o racismo ambiental é a forma como os impactos ambientais se distribuem de forma desigual, atingindo mais os povos racializados.
É reconhecer um fato: porque não há neutralidade quando se trata de quem lucra e quem morre diante da degradação ambiental.
Não. Porque é preciso proteger os povos que vivem nas florestas — e garantir terra, água e dignidade.
Por exemplo: Nas cidades, os bairros mais pobres são os mais expostos à poluição, enchentes e falta de serviços básicos.