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Lixo Zero: um pilar que modifica a relação humana com o consumo

Lixo zero - problemas e soluções
Saiba o que é Lixo Zero, uma solução que modifica os pilares do ser humano com o consumo, e seus benefícios econômicos, sociais e ambientais

Tempo estimado de leitura: 13 minutos

O que é Lixo Zero e por que é tão importante?

A crescente consciência ambiental global está fazendo crescer, mesmo que ainda timidamente, o movimento rumo à meta de “Lixo Zero”, uma filosofia que visa eliminar totalmente o desperdício através da reutilização, reciclagem e compostagem de resíduos.

E por que isso é importante? Bom, só em 2020, o Brasil produziu mais de 79 milhões de toneladas de lixo e reciclou apenas 3% desse total. Ou seja, somos um dos países mais ineficientes no que diz respeito ao correto tratamento dos resíduos que geramos. Esse é um problema que se acumula, assim como o lixo.

Entretanto, existem alternativas e soluções para combater esse enorme problema. Uma delas, é o Lixo Zero. 

Então, neste artigo vou te explicar o que isso significa. Primeiro vamos entender o consumo excessivo e as consequências disso. Em seguida, que o lixo não precisa – e nem deve – ser gerado da forma como é feito hoje. Por fim, vou te mostrar todos os benefícios de adotarmos o Lixo Zero na nossa vida.

Vamos lá?

Lixo Zero
Será que Lixo Zero pode ser uma realidade no Brasil?

O lixo nosso de cada dia

Estima-se que cada brasileiro(a) produza uma quantidade média de 1kg de lixo por dia. Considerando-se as proporções continentais de nosso país, podemos dizer que geramos uma imensa quantidade de resíduos.

Quando falamos desse 1kg de lixo, estamos tratando apenas dos resíduos que são gerados a partir do consumo. Ou seja, de embalagens, de produtos que perdem sua utilidade, de restos de alimentos e afins. 

O século XXI pode ser categorizado como o século do consumo, e, consequentemente, o século do descarte.

Atualmente estamos habituados a comprar algo para saciar uma necessidade de consumo imediata. Em seguida, descartamos os restos desse produto, sua embalagem ou até mesmo o produto em si. 

Essa lógica é fruto do desenvolvimento da Economia Linear (que é o contrário da Economia Circular). Ela se baseia no processo de utilização de recursos naturais como matéria-prima para o processo produtivo industrial, que, por sua vez, fabrica produtos destinados a suprir necessidades de consumo, imediatas ou de média duração.

Portanto, esses produtos, após consumidos, têm como destino final uma lixeira. E ao final desse ciclo de vida, o processo se inicia novamente. 

Esse é o grande vilão de nossa sociedade moderna. Consumir linearmente e sem se dar conta de que aquilo que acabamos de consumir é um recurso natural. Que tal recurso passou por um processo de transformação.

É como dizia Lavoisier: “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. 

O lixo é uma criação dos desavisados

Você já parou para pensar sobre o que é “lixo”? De onde surge essa ideia? E o que acontece com esse lixo quando o jogamos fora? 

Para entender melhor, vamos imaginar que você está na rua e sente sede. A ação mais lógica a ser feita é parar em algum estabelecimento comercial e comprar uma água de garrafa. Essa garrafa contém 500ml de um líquido que não pode ser precificado. Logo, não é a água que é um produto, mas sim a garrafa. Consumimos assim porque entendemos que essa é uma facilidade oferecida por uma indústria. 

Mas, você sabia que uma garrafa de água tem sua vida útil média estimada em 12 minutos? Ou seja, do momento da compra até o momento em que seu líquido foi totalmente consumido se passam apenas 12 minutos.

Então, a garrafa plástica que traz em seu interior 500ml de água é fruto da transformação de uma matéria-prima natural não renovável. No caso da garrafa, o petróleo, e ela não deixa de ser um recurso natural após ser utilizada. Entretanto, mesmo assim a descartamos como se já não tivesse nenhuma utilidade, porque o líquido contido nela já foi consumido.

E qual o problema?

A grande questão é que aquela embalagem plástica não perde a capacidade de armazenar um novo líquido. Nem de servir como base para a produção de uma nova embalagem. Logo, aquele recipiente só se transforma em lixo quando nós decidimos que isso aconteça. Então depositamos inadequadamente a garrafa em uma lixeira. Finalmente, misturamos com diversos outros produtos que também não deveriam estar ali. 

lixo de garrafa plástico
O descarte de garrafas plásticos causam sérios problemas ao meio ambiente

Leia também: ” A ameaça do lixo no mar para a sustentabilidade“.

Por isso, o lixo não existe, ele é uma invenção dos desavisados

Por quê? Porque tudo o que compramos, absolutamente tudo, são recursos naturais transformados em determinados itens que servem a um determinado propósito. No entanto, eles não deixam de ser recursos naturais pelo simples fato de que já não são mais úteis para quem os comprou. 

Então, a palavra lixo não deveria existir, porque tudo o que consumimos são recursos naturais.

O termo correto para tratar de coisas que já não possuem utilidade em nossas vidas é resíduo. A diferença entre lixo (rejeito) e resíduo é que este último é um bem natural dotado de valor e utilidade. Talvez não seja para quem o descarta, mas certamente é para quem o coleta, processa, transforma e o reinsere na cadeia produtiva.

Já o lixo inútil ou rejeito, esse sim não tem valor, pois representa algo sujo. Não passa de uma mistura insalubre de diversos resíduos. Mas, em geral, os resíduos, de forma consciente ou inconscientemente, são descartados de forma errônea.

E assim acabam por perder seu valor. Deixaram de ser úteis para a sociedade. Então, quando misturamos nossos resíduos e criamos lixo, estamos na verdade desperdiçando recursos e riquezas naturais. Assim, estamos desperdiçando dinheiro. Pode parecer besteira, mas é simples assim. 

E qual a saída para isso?

Lixo Zero: soluções concretas para problemas reais

“Lixo Zero” é mais do que apenas uma meta, é uma mudança de mentalidade. Esse conceito exige uma abordagem cíclica de recursos, onde nada se torna um resíduo. É um chamado para repensar nossa relação com os materiais que consumimos e descartamos. 

Sobre o ponto de vista técnico, caracterizamos um ambiente Lixo Zero como um ambiente que resgata, dos aterros sanitários, no mínimo 90% dos resíduos gerados. O que isso significa?  Os aterros sanitários teriam apenas 10% do volume atual se fossemos eficientes com a ideia do lixo zero.

Interessante, não é mesmo?

E até 2021, mais de 200 lugares no mundo todo tinham planos oficiais para Lixo Zero, de acordo com a Zero Waste International Alliance. Dois exemplos são São Francisco nos EUA e Kamikatsu no Japão, que já estão tentando chegar a Lixo Zero. Elas planejam reciclar ou reutilizar quase todo o lixo que produzem, em vez de jogá-lo fora.

Benefícios do Lixo Zero

O Lixo Zero é uma nova forma de enxergar o mundo que nos cerca, além de uma nova forma de compreender as relações que travamos com esse mundo, em todas as esferas possíveis. E causa inúmeras transformações, como vou te mostrar a seguir.

A transformação ambiental

Você se lembra quando, no início deste artigo, falamos que um brasileiro médio produz cerca de 1kg de lixo por dia? Agora imagine uma casa onde habitam 5 pessoas. Essa família vai produzir incríveis 1800 quilos de lixo todos os anos. Muito provavelmente, não serão destinados adequadamente.

Transformando essa conta para um prédio onde existam 20 apartamentos, chegamos à significativa cifra de 36 toneladas de lixo anuais. Em conclusão, a partir desses números, podemos ter noção de como o conceito de Lixo Zero impacta diretamente a qualidade ambiental local.

A transformação econômica

Antes de falar de economia é preciso desmistificar uma grande inverdade que se instalou no subconsciente social: viver uma vida sustentável não é mais caro. Muito pelo contrário, viver de uma maneira mais sustentável é na verdade mais barato do que viver de uma forma convencional. 

E quando falamos em Lixo Zero, estamos falando de um modo de vida que proporciona muitos benefícios econômicos para as famílias. Sobretudo para as empresas, os municípios, os estados e até mesmo para os governos federais. 

Mas muitos economistas e governantes mantém a ideia de crescimento e consumismo. Isso porque, ao adotarmos práticas de Lixo Zero, entramos em confronto direto com a lógica irracional da cultura do consumo excessivo que mantém o lucro dos que não pensam no futuro do planeta.

O consumo excessivo e compulsivo
O Lixo Zero é uma prática que combate o consumismo compulsivo

Como a ideia central do Lixo Zero se baseia no conceito da não produção de resíduos, quando abordamos esse tema estamos falando diretamente da responsabilidade no momento do consumo.

Entretanto, não produzir não significa deixar de comprar coisas, mas sim abandonar o hábito do consumo irracional e produção desnecessária.

Ou seja, ao exercitar a não produção de lixo, exercitamos também algumas reflexões. Por exemplo, qual a real necessidade do consumo?

Existem melhores alternativas para atender as necessidades que temos, que gerem menos resíduos e menos impacto ambiental. Também podemos chamar essas alternativas de Precycling (pré-reciclagem), ou seja, reciclar antes mesmo de gerar. 

Estamos pagando para enterrar dinheiro em vez de adotarmos o programa do Lixo Zero

A adoção de práticas Lixo Zero e de seus benefícios econômicos, como por exemplo, a compra de alimentos a granel ou como o simples ato de adotar uma garrafinha de água para nos acompanhar no dia a dia, representa uma pequena mudança, mas que gera grandes impactos financeiros. 

Dessa forma, começamos a pagar apenas pelo conteúdo do produto que estamos comprando. Assim, dispensamos as embalagens e outros recipientes, cuja produção impacta, e muito, o meio ambiente.

E ainda existe um outro tipo de economia. É a economia gerada a partir da diminuição dos altos custos que a coleta seletiva de lixo impõe aos agentes públicos. O custo de Limpeza Urbana de um município pode chegar a 50% de seus gastos mensais. Um custo absurdo que poderia ser usado em benefício de todos.

Nesse sentido, podemos dizer que estamos pagando quantias absurdas de dinheiro para que um recurso natural valioso, e que pode ser reaproveitado e destinado adequadamente, seja enterrado em algum lugar da cidade e se torne um agente poluente.

Pior que isso, mais hora ou menos hora, vamos ter que pagar outra quantia absurda de dinheiro para que esse mesmo meio ambiente seja descontaminado, até desenterrado para ser reutilizado.

E qual o papel do Lixo Zero nisso?

O Lixo Zero evita que toda essa cadeia ilógica e irracional aconteça. Práticas Lixo Zero promovem como benefícios:

  • A reutilização e reciclagem de resíduos,
  • Reinsere uma grande quantidade de dinheiro dentro dos sistemas econômicos locais, e
  • Desonera a responsabilidade de gestão desses resíduos, uma vez que a gestão é de ordem local. 

Alimentos a granel exemplo de consumo Lixo Zero
A compra de produtos a granel é um exemplo de Lixo Zero

A transformação social

Como vimos, o Lixo Zero também transforma a nossa relação com o que consumimos, porque nos torna compradores mais conscientes e responsáveis. Além disso, passamos a nos preocupar com os resíduos que geramos e a sua destinação final.

Costumo dizer que somos eternamente responsáveis pelos resíduos que geramos. E essa é uma verdade dolorosa para nossa sociedade orientada pelo descarte. Precisamos entender que o conceito do Lixo Zero traz como benefício permitir que esses resíduos sejam tratados como recursos naturais dotados de valor econômico e social. 

Investir em métodos eficientes de separação, tratamento e correta destinação de resíduos gera valor social e econômico. Ao implementarmos ações concretas que caminhem no rumo da sociedade Lixo Zero, criamos empregos verdes. Dessa forma, geramos renda e resgatamos a cidadania de milhões de pessoas. 

Nesse caso, os empregos verdes afetam em sua grande parte profissionais que dedicam suas vidas ao resgate de resíduos nos grandes centros urbanos. Catadores e coletores de resíduos, recicladores, papeleiros, garis e afins. Contudo, são profissionais invisibilizados que promovem um serviço essencial para nossa sociedade. 

O Lixo Zero cria empregos e afasta as pessoas da insegurança alimentar

Você se lembra da greve dos garis no Rio de Janeiro em 2014? Qual a importância que damos a esses profissionais que vivem à margem da sociedade? Pessoas que prestam um serviço tão importante para nossas cidades. 

Então, além de todos os benefícios já citados, o Lixo Zero também promove a criação de empregos formais. E assim, trazem segurança social e cidadania para esses trabalhadores e trabalhadoras. Como resultado, esses empregos geram arrecadação para os cofres do estado. E acima de tudo movimentam os comércios locais e afastam milhões de pessoas da insegurança alimentar.

Por tudo isso, o Lixo Zero deve ser encarado como uma transformação da nossa própria mentalidade em relação aos resíduos e nosso consumismo. Até porque, embora atingir um status de “Lixo Zero” possa parecer uma tarefa monumental, cada esforço individual e comunitário conta e é extremamente importante. E isso exige que a gente mude a forma de encarar o mundo e nossas próprias atitudes.

Portanto, o Lixo Zero não é uma moda, é uma necessidade e uma oportunidade de mudarmos o mundo em que vivemos para melhor.

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