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Mobilidade Compartilhada: O acesso é mais poderoso do que a posse
Há 100 anos, as pessoas queriam se locomover e não podiam. Henry Ford resolveu este problema com o desenvolvimento da linha da montagem e a popularização do automóvel particular. Hoje, os carros particulares são um problema para a sociedade e para as grandes cidades. Mas não se preocupe, os Millennials, a revolução tecnológica e a Mobilidade Compartilhada já estão buscando soluções. Arraste para baixo que te explicarei melhor.
Vamos entender o problema…
Acredito que não seja necessário dedicar muitas linhas deste texto para explicar que os carros se tornaram um grande problema para a sociedade moderna. Não é mesmo? Afinal de contas, quem nunca ficou preso em um congestionamento ou passou uma quantidade absurda de tempo procurando um local para estacionar?
A popularização do carro particular fez gerar a sociedade do automóvel, onde o grande sonho de consumo é ter seu primeiro carro. Entretanto, essa sociedade baseada em veículos particulares, não se preparou para suportá-los em demasia. Isso acabou gerando o fenômeno dos congestionamentos sem fim. Igualmente vieram os problemas: da poluição urbana e também o do maior responsável por mortes de jovens no mundo, os acidentes de trânsito.
Quando os efeitos negativos do excesso de carros nas cidades começaram a aparecer, muitas pessoas passaram a afirmar que os veículos particulares são um mal necessário. No entanto, a realidade destoa deste pensamento comum e mostra a urgência por mudanças.
Os carros se tornaram um problema no Brasil e em diversos outros países. Por que? Aqui houve a questão de desinteresse no investimento em transporte público de qualidade. Enquanto que em diversos países ao redor do mundo previram que a massificação dos carros seria um problema. Eles passaram a investir de forma excessiva nos sistemas de transporte público coletivo.
O Carro é o “novo cigarro”
Mas por qual motivo o carro seria o “novo cigarro”? Por que os dois soltam fumaça, são caros e matam milhões de pessoas ao redor do mundo todos os anos? Sim, por isso e por vários outros fatores.
No início do século XX, o hábito de fumar representava um determinado status social, bem como ser proprietário de um carro. Os cigarros eram caros, assim como os carros. Apareciam em filmes de Hollywood o tempo todo. Passavam aquela imagem de James Dean e Audrey Hepburn. Sabe? Uma imagem que dizia: quem fuma é cool, é legal. Este adjetivo também se adequava para quem tinha um carro, pois isso se relacionava com o atingimento de uma vida bem sucedida.
Acontece que o avanço da medicina identificou os malefícios do cigarro para a saúde humana. Por isso desde a década 50, os governos ao redor do mundo iniciaram fortes campanhas antitabagistas. Ficou claro que fumar é hábito danoso à saúde humana. Principalmente porque que não traz nenhum tipo de benefício. Logo, o cigarro deixou de ser um artigo de luxo e passou a ser visto como um vício inconsequente.
Malefícios dos automóveis
Na década de 70 já se falava sobre os malefícios dos automóveis para a sociedade. Nas grandes capitais desenvolvidas, o trânsito em excesso já era um problema. Mas a má vontade em se investir em sistemas de transportes públicos de qualidade e que atendessem às reais necessidades dos usuários, acabou criando a ideia de que os carros são um mal necessário.
Você sabia que os carros são ineficientes?
Talvez a melhor forma de convencer uma pessoa a não comprar um carro seja explicando o simples fato de que, investir em um automóvel, nos dias de hoje, pode ser uma furada. Simplesmente um mau negócio.
A seguir, iremos explorar dois dados sobre a ineficiência dos carros. Te garanto que será interessante!
Um carro passa, em média, 96% de sua vida útil parado.
Exatamente! Cerca de 96% da vida útil de um carro é desperdiçada, pois ele está parado, estacionado, fora de uso. Os carros foram inventados para resolver o problema de mobilidade das pessoas. Logo, eles foram criados para transportar pessoas, e quando não estão transportando pessoas, estão ociosos.
A ociosidade tem um custo, e ele é alto
Vamos lá! O custo anual médio para manter um carro popular no Brasil varia entre R$ 25.000 e R$ 29.000. A partir da premissa de que um carro passa em média 96% do tempo parado, não cumprindo com sua função de transporte: pode-se então dizer que 96% destes R$ 29.000 representam o custo de ociosidade desse carro. Ou seja, R$ 27.840 é o valor que se paga, anualmente, por um carro parado.
O futuro sem carros
Muito tem se falado sobre um futuro onde os carros não terão mais a figura do motorista. Bem, os carros autônomos já são uma realidade e a cada dia novas experiências com esses veículos surgem pelo mundo afora.
Esse fato torna-se mais concreto com a compreensão de que os carros autônomos não serão veículos particulares. A ideia de ser proprietário de um veículo já começou a entrar em desuso, muito impulsionada pelo comportamento social dos millennials, que tende a se concretizar na sociedade.
As novas gerações já acreditam que a posse é um valor subestimado. Os Millennials e a Geração Z acreditam no valor das experiências, em detrimento da posse de bens. Essas gerações procuram acesso e não a propriedade de algo. Portanto é neste ponto que entra a Economia Compartilhada e o poder da tecnologia.
A Mobilidade Compartilhada é o futuro
O desenvolvimento da tecnologia e a popularização da internet vem transformando os mercados globais e a sua oferta. A transformação de bens em serviços tem se difundido pelos quatro cantos do mundo. Todos os dias surgem novas startups e novos modelos de negócios focados na transformação de bens em serviços que sejam acessíveis e focados em atender as reais demandas de uma sociedade altamente tecnológica e conectada.
A Economia Compartilhada e estes novos modelos de negócios, baseados na indústria dos serviços em detrimentos dos bens, possuem duas premissas básicas para prosperar e se expandirem ao redor do globo, sendo essas:
A Mobilidade Compartilhada – Capacidade excedente
Você se lembra daqueles 96% de tempo em que um carro passa parado? Esse período ocioso é exatamente o que chamamos de capacidade excedente.
Podemos entender a Capacidade Excedente como toda e qualquer estrutura de suporte instalada e não utilizada, total ou parcialmente, estando assim, disponível para compartilhamento.
Simplificando, podemos dizer que um carro que possui a completa capacidade para rodar por 10 horas em um dia levando até cinco passageiros, mas que passa oito horas estacionado e quando está em movimento leva apenas um passageiro, é uma infraestrutura instalada parcialmente não utilizada e disponível para compartilhamento. Daí surge o Uber, a Zipcar, os aplicativos de bicicletas compartilhadas, Scooters elétricas e afins.
Disposição para se conectar e contribuir com uma comunidade
Pode parecer estranho afirmar que a disposição para se conectar e contribuir com uma comunidade é premissa para o desenvolvimento da Economia Compartilhada, mas essa é essencialmente a chave para o sucesso deste novo modelo de estrutura econômica.
As novas gerações já compreenderam que não podemos seguir consumindo como nossos pais ou nossos avós. O planeta já deixou muito claro que não vai suportar a pressão ambiental de sustentar os luxos de uma sociedade com cerca de nove bilhões de habitantes proprietários de carros particulares, que por sua vez, passam 96% do tempo estacionados.
As cidades não suportam mais tantos carros
As cidades também estão à beira de um colapso de tráfego. Não podem mais suportar o aumento na quantidade de veículos transitando diariamente. E é exatamente por isso que cidades como Nova York, Londres e Seul já implementaram programas com medidas drásticas para desestimular a utilização de carros particulares.
Além dos aspectos específicos relacionados à mobilidade, podemos também citar que o espaço urbano não comporta e não pode mais aceitar que existam duas vagas de estacionamento para cada carro em uma cidade. Parece absurdo, mas isso é uma realidade. Estes espaços poderiam e deveriam estar sendo utilizados por um conjunto muito mais amplo da sociedade e é exatamente isso que acontecerá.
Com a diminuição da quantidade de carros, as vagas de estacionamento se tornaram inúteis. Em conclusão, esse fato é aliado do fortalecimento da crença de que esse espaço deve servir aos seus habitantes, e não aos seus carros.
A Revolução da Mobilidade Compartilhada também é a Revolução do Pensamento Social
As novas gerações assumiram que essa é uma tarefa coletiva. Por isso se mostram dispostas e animadas em construir um novo modelo de organização, tanto da sociedade quanto da economia. Apostam cada vez mais no compartilhamento de coisas que possuem uma capacidade excedente. E quando digo coisas, é porque são coisas mesmo.
A mudança governamental é sempre mais lenta do que esperamos. Mas acredite, virá! Sem sombra de dúvidas! E por mais que todas estas previsões e que todos estes cenários ainda pareçam muito distantes da realidade brasileira, podemos começar a nos acostumar com estas ideais. Pois são novos conceitos que vieram para ficar porque são inadiáveis. A revolução tecnológica e comportamental ganha força todos os dias, e pode ser que muito em breve ela nos surpreenda ainda mais.
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