A história dos agrotóxicos é uma saga marcada por avanços tecnológicos, aumento da produtividade agrícola e por consequências inesperadas que desafiam a saúde humana e o equilíbrio ambiental.
O que são agrotóxicos?
Antes de passarmos a contar a história dos agrotóxicos é importante saber que eles são substâncias químicas utilizadas na agricultura para combater pragas, doenças e ervas daninhas que prejudicam as plantações – e são apenas para isso que servem. Entretanto, originalmente eles foram desenvolvidos como armas químicas de destruição de massa.
Mesmo sendo tão perigosos, o Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo. Segundo dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), em 2019, o Brasil utilizou cerca de 377,2 mil toneladas desses produtos químicos.
Estima-se que, globalmente, o mercado de agrotóxicos movimente mais de 60 bilhões de dólares anualmente. Diante de cifras tão significativas, torna-se essencial compreender sua história e origem, desenvolvimento e os motivos pelos quais os agrotóxicos representam uma ameaça tanto para o meio ambiente quanto para a saúde humana.
É sobre isso que veremos neste artigo. Vamos lá?
História e a origem dos agrotóxicos – o tóxico antes do agro
A história dos agrotóxicos começou nas guerras, ou seja, durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, infestações de pragas acarretavam sérios problemas para os combatentes que viviam nas trincheiras do conflito.
Assim, a indústria química da época foi convocada para solucionar essa situação. E esse é o ponto da história em que registramos o aparecimento dos primeiros pesticidas, destinados ao controle de pragas urbanas. Enfim, pesticidas passaram a ser utilizados para combater pragas nos campos de batalha. Além disso, passaram a usar herbicidas para desfolhar florestas e proporcionar melhor visão área do inimigo.
Enfim, a Segunda Guerra Mundial demandou a produção de quantidades vertiginosas de pesticidas, cujas destinações se davam tanto para os campos de batalha como para as cidades assoladas pelos intensos bombardeios.
Foi também durante a Segunda Guerra que a Alemanha Nazista adotou a utilização de um pesticida para um fim nefasto e sem precedentes na história da humanidade: o Zyklon B.
Do Zyklon B ao Fipronil
Zyklon B foi um pesticida desenvolvido em 1924 e possui como principais componentes o ácido cianídrico, cloro e nitrogênio. Essa composição química fornece ao inseticida uma alta toxicidade e letalidade, principalmente para animais maiores. Inicialmente, o composto foi utilizado durante a segunda guerra mundial como agente sanitizante contra ratos e também no combate a piolhos e a tifo.
Em 1942, após várias tentativas de encontrar um método mais eficaz para cometer tal atrocidade, o alto comando nazista escolheu o pesticida Zyklon B como o instrumento final de extermínio no âmbito da Solução Final. O Zyklon B, originalmente um pesticida comum, foi então empregado como uma arma de guerra, um agente químico para o extermínio em massa.
O Zyklon B foi responsável pela morte de mais de 1,1 milhões de pessoas nos campos de concentração nazistas.
Fim da guerra – o que fazer com tanto veneno produzido?
Pois bem, após o término do conflito bélico, centenas de milhares de litros de Zyklon B e outros compostos químicos empregados como armas durante a Segunda Guerra Mundial, incluindo o Gás Sarin, permaneciam em depósitos e fábricas ociosos pela Alemanha ocupada. Prevalecia a ideia de que esses compostos deveriam ter um destino comercial, considerando-se o significativo capital financeiro que representavam.
Esse fim comercial não tardou a chegar. A Revolução Verde, que transformou tanques de guerra em tratores agrícolas, encontrou também um fim muito específico e lucrativo para esses agentes químicos. Foi então que as armas de extermínio em massa se converteram em agrotóxicos, destinados ao pacote tecnológico da Revolução Verde.
A composição química do Zyklon B acabou se tornando a base para a criação de outros agrotóxicos, como por exemplo, o Fipronil. Se você comeu batata essa semana, provavelmente ingeriu alguma quantidade desse composto.
Do agente laranja ao Glifosato – história dos agrotóxicos
Durante a guerra do Vietnã, o exército estadunidense se encontrava em maus lençóis em meio a densa vegetação da selva tropical vietnamita. As forças armadas norte-americanas sofriam constantes emboscadas dos combatentes Vietcongs que se camuflavam no topo das árvores. Por isso encomendaram de uma grande multinacional compatriota um agente químico que agisse como um desfolhante.
O produto químico utilizado ficou conhecido como Agente Laranja, nome dado por sua coloração de um laranja vivo e forte. O produto agia na superfície foliar da vegetação e provocava a histólise das células vegetais. Como resultado, este agrotóxico servia para matar as folhas e promoviam sua queda. As árvores então ficavam sem sua proteção foliar e o exército inimigo ficava exposto e perdia o efeito surpresa.
O Agente Laranja libera como um subproduto a dioxina tetraclorodibenzodioxina, agente altamente carcinogênico.
Entre 1960 e 1971 foram aspergidos mais de 80 milhões de litros do composto químico. Mais de 4.8 milhões de Vietnamitas foram expostos ao veneno e mais de 3 milhões sofreram com as complicações provenientes da exposição ao produto químico.
Enfim, o Agente Laranja foi uma arma química de grande sucesso em sua utilização. Bem irônica a palavra sucesso neste caso. Não acha?
Ao fim do conflito as empresas fabricantes do Agente Laranja tinham em mãos uma enorme quantidade excedente do produto que precisava de uma destinação comercial. O produto foi então rebatizado com o nome de Glifosato, e passou a ser utilizado no meio agrícola no controle de ervas daninhas.
Na história, vemos o Glifosato como o agrotóxico mais utilizado nas lavouras de café, uva, arroz, cana de açúcar, milho, soja, batata, tomate e diversas outras variedades.
O agro depois do tóxico
Pois bem, como deu para notar, primeiramente estes produtos químicos foram criados para resolverem os problemas das pragas urbanas e depois para serem utilizados durante a Segunda Guerra Mundial.
Quando se encontraram em desuso, devido aos tempos de paz, foram repaginados. Após rebatizados a história mudou, ou seja, os agrotóxicos passaram a servir para o meio agrícola, principalmente em países subdesenvolvidos como o Brasil.
Em conclusão, foi assim que durante a história da Revolução Verde, entre as décadas de 1940 e 1960, que o uso de agrotóxicos cresceu exponencialmente. A razão por trás disso foi a necessidade de alimentar uma população mundial em rápido crescimento.
Mas, será que vale a pena?
Os impactos dos agrotóxicos na história da humanidade
Pois bem, com o passar dos anos, começamos a perceber os efeitos negativos dessas substâncias no meio ambiente e na saúde humana. Por exemplo, o DDT, um agrotóxico amplamente utilizado após a Segunda Guerra Mundial, causou a morte de muitas aves e outros animais. Além disso, foi proibido em muitos países por ser considerado cancerígeno.
Além do DDT, outros agrotóxicos também causam danos ao meio ambiente, como a contaminação de rios e lençóis freáticos, afetando a vida aquática e a qualidade da água. Inclusive, o uso excessivo de agrotóxicos pode levar ao desenvolvimento de pragas resistentes, o que só piora a situação.
Se quiser saber mais sobre os impactos dos agrotóxicos, então leia depois este artigo: Os Impactos dos Agrotóxicos.
O futuro dos agrotóxicos
A situação que vivenciamos com o uso de agrotóxicos é extremamente grave. Mas, nem tudo está perdido! Em todo o mundo, existem soluções sustentáveis para a agricultura que buscam reduzir o uso de agrotóxicos e proteger o meio ambiente.
Uma dessas soluções é a agricultura orgânica, que utiliza técnicas naturais de controle de pragas e doenças, sem a necessidade de agrotóxicos.
Outra opção é a agricultura de precisão, que utiliza tecnologia avançada para aplicar agrotóxicos de forma mais eficiente e reduzir o impacto ambiental. Afinal, ainda existem pragas em que a única opção disponível é usar produtos químicos, de tanta resistência que atingiram contra produtos mais naturais.
Nas situações em que o uso do agrotóxico é realmente imprescindível, então que seja o mínimo possível usado e com total controle para minimizar os impactos no meio ambiente e na saúde humana. E é isso que técnicas da agricultura de precisão possibilita.
E outra alternativa para mudarmos a história do uso de agrotóxicos é a Agroecologia. Você pode saber mais lendo este artigo: A Agroecologia é sustentável.
No entanto, é importante lembrar que a solução não é apenas tecnológica. A educação e a conscientização da população sobre o perigo do uso de agrotóxicos e a importância da sustentabilidade na agricultura são fundamentais. Isso inclui incentivar o consumo de produtos orgânicos e apoiar políticas públicas que promovam práticas agrícolas sustentáveis.
É claro que a transição para uma agricultura mais sustentável não acontecerá do dia para a noite. Mas, com esforços combinados de governos, agricultores, empresas e consumidores, podemos reduzir a dependência dos agrotóxicos e proteger o meio ambiente para as futuras gerações.
É preciso de conscientização sobre os agrotóxicos
Conhecer a história dos agrotóxicos e para o que eles realmente servem nos mostra que, embora essas substâncias possam ter contribuído para o aumento da produtividade agrícola, elas também trouxeram consequências negativas à saúde humana e ao meio ambiente. A contaminação da água, do solo e a redução da biodiversidade são apenas alguns dos impactos negativos associados ao uso excessivo e inadequado desses produtos químicos.
Por isso, é fundamental repensarmos nossa relação com os agrotóxicos e questionarmos se essa história deve continuar, bem como se os ganhos de curto prazo na produtividade das lavouras realmente compensam os danos que causamos ao nosso planeta e à nossa saúde.
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Resumo com perguntas curiosas sobre a história dos agrotóxicos
Substâncias naturais como enxofre e arsênico eram usadas para combater pragas.
A Segunda Guerra Mundial e o desenvolvimento de armas químicas.
O DDT, popularizado por sua eficácia contra diversas pragas.
Efeitos colaterais na saúde humana e no meio ambiente.
Encontrar o equilíbrio entre produtividade, segurança alimentar e a Sustentabilidade Ambiental.
Referências de pesquisa sobre a história dos agrotóxicos
Livros sobre a história dos agrotóxicos
- “Silêncio dos Campos: A Guerra dos Agrotóxicos no Brasil” por Andréa Tonello (2019)
- “A Quarta Revolução Agrícola: A Agricultura Sustentável e a Transição para uma Civilização Sustentável” por André Villas Bôas (2010)
- “Pesticidas: História, Riscos e Alternativas” por Paulo Freire Martins (2008)
Sites e Instituições:
- Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)
- Comissão Nacional de Agrotóxicos (Conagro)
- Rede Brasileira de Agroecologia (Rede Agro)
- Associação Brasileira de Agroecologia (ABA)
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