A quelonicultura é a criação racional e controlada de quelônios — grupo de répteis que inclui jabutis, cágados e tartarugas — com objetivos comerciais, conservacionistas ou científicos. Embora ainda pouco difundida em larga escala, essa atividade tem ganhado espaço, especialmente em projetos de conservação, educação ambiental e produção de carne legalizada em determinadas regiões.
Neste artigo, você vai entender o que é quelonicultura, como ela funciona, quais são suas principais aplicações, quais espécies são mais criadas, os benefícios dessa atividade, os desafios enfrentados e os dados mais recentes sobre sua prática no Brasil.
De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), há cerca de 150 criatórios comerciais de quelônios registrados no país até 2023, sendo a maioria localizada na região Norte. Além disso, o manejo sustentável de espécies nativas tem sido apontado como uma ferramenta importante para reduzir a caça ilegal e gerar renda local.
Mas afinal, o que caracteriza essa atividade e como ela se diferencia de outras formas de criação animal?
O que é quelonicultura e como ela funciona na prática
A quelonicultura consiste na criação controlada de espécies de quelônios, com base em técnicas de manejo que respeitam o ciclo de vida, as necessidades fisiológicas e o bem-estar desses animais. Dependendo do objetivo, o sistema pode ser usado para:
- Produção de carne legalizada, especialmente em comunidades amazônicas.
- Criação de animais para fins ornamentais ou de estimação, como jabutis e cágados.
- Programas de conservação e repovoamento, que visam proteger espécies ameaçadas e manter a biodiversidade.
O processo começa com a instalação de recintos adequados ao comportamento da espécie, com espaço, umidade, temperatura e alimentação específicos. Por exemplo, tartarugas aquáticas precisam de tanques com água limpa e áreas secas para descanso, enquanto jabutis necessitam de viveiros com solo arenoso, sombra e fontes de calor.
Além disso, é fundamental respeitar as exigências legais. Qualquer criador deve estar registrado junto aos órgãos ambientais e seguir normas específicas de manejo, reprodução e comercialização.
Com os cuidados corretos, é possível manter os animais saudáveis e alcançar bons resultados, tanto para conservação quanto para geração de renda.
Espécies mais comuns na quelonicultura brasileira
O Brasil possui uma rica diversidade de quelônios, com mais de 30 espécies nativas. Algumas delas podem ser criadas legalmente em sistemas autorizados. Principalmente:
- Jabuti-piranga (Chelonoidis carbonarius): Muito comum em criações domésticas e ornamentais. É dócil, fácil de manejar e adaptável a diferentes regiões do Brasil.
- Jabuti-tinga (Chelonoidis denticulatus): De maior porte e mais exigente quanto à umidade. Igualmente criado como animal de estimação e em programas educativos.
- Tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa): Considerada uma das maiores tartarugas de água doce do mundo. Criações na região Norte têm fins alimentares e fazem parte de projetos de manejo sustentável.
- Tartaruga-pitiú (Podocnemis unifilis): Espécie de água doce muito presente em rios amazônicos. Criada em unidades de conservação e também em criatórios licenciados.
Essas espécies são escolhidas principalmente por sua importância ecológica, aceitação cultural e viabilidade de reprodução em cativeiro.
Agora que você já conhece as espécies, veja por que a quelonicultura pode ser tão vantajosa.
Vantagens da quelonicultura para a conservação, economia e educação ambiental
A quelonicultura, quando bem aplicada, oferece diversos benefícios. Um dos principais é a redução da pressão sobre as populações silvestres. Ao oferecer uma alternativa legal e sustentável, a atividade ajuda a combater o tráfico de animais e a a caça predatória.
Outro ponto positivo é a geração de renda para comunidades tradicionais. Em regiões ribeirinhas da Amazônia, por exemplo, a criação legal de tartarugas para consumo próprio ou comercialização controlada garante alimento, emprego e valorização cultural.
A atividade também é muito útil em projetos de educação ambiental e pesquisa científica. Escolas, centros de visitantes e universidades utilizam viveiros de quelônios para conscientizar sobre a importância da biodiversidade e do respeito aos animais.
Do ponto de vista ecológico, a criação controlada pode apoiar o repovoamento de áreas degradadas, especialmente quando os criadores trabalham em parceria com órgãos ambientais para soltar filhotes em rios e matas protegidas.
Além disso, os quelônios são animais de baixo custo de manutenção e têm ciclos de crescimento bem compreendidos, o que favorece o planejamento a longo prazo.
No entanto, é importante entender que a atividade não está livre de desafios.
Desafios da quelonicultura e cuidados essenciais para o sucesso da criação
Apesar dos benefícios, a quelonicultura ainda enfrenta diversos desafios. O primeiro deles está relacionado à legislação ambiental brasileira, que é bastante rígida. Para atuar legalmente, o criador precisa obter autorização do IBAMA ou do órgão estadual competente, manter registros detalhados e seguir protocolos de manejo autorizados.
Outro ponto crítico é o tempo de crescimento dos animais, que geralmente é mais lento do que em outras criações. O jabuti, por exemplo, pode levar vários anos até atingir tamanho comercial. Isso exige paciência, investimento e visão de longo prazo.
A infraestrutura também precisa ser adequada. Os recintos devem garantir segurança, conforto térmico, umidade e acesso à alimentação adequada. De fato, sem essas condições, os animais podem desenvolver doenças, apresentar crescimento lento ou até morrer.
Além disso, é essencial combater a criação ilegal e o comércio clandestino, que ainda são problemas em diversas regiões do país. A fiscalização precisa se aliar à educação ambiental e da oferta de alternativas legais para quem vive em áreas onde o consumo de carne de tartaruga é culturalmente comum.
Mesmo com esses desafios, a quelonicultura continua avançando em várias frentes. A seguir, veja os dados mais recentes sobre o setor no Brasil.
Dados recentes sobre a quelonicultura no Brasil
De acordo com o relatório “Cadastro Nacional de Criadores de Animais Silvestres”, divulgado pelo IBAMA em 2023:
- Existem mais de 150 criatórios de quelônios registrados no Brasil.
- A maioria está concentrada nas regiões Norte e Centro-Oeste, com destaque para os estados do Amazonas, Pará e Goiás.
- Cerca de 60% dos criatórios são comerciais, voltados à produção de filhotes para venda legalizada. Os outros 40% atuam em educação, pesquisa ou conservação.
- O jabuti-piranga é a espécie mais comum em criações domésticas legalizadas, seguido pela tartaruga-da-amazônia.
Além disso, projetos como o “Pé-de-Pincha”, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), já contribuíram para a soltura de mais de 900 mil filhotes de tartaruga-da-amazônia desde sua criação, mostrando que a união entre ciência, comunidade e criação controlada pode trazer excelentes resultados.
Perguntas e respostas
É a criação controlada de jabutis, tartarugas e cágados com fins comerciais, educativos ou conservacionistas.
Jabuti-piranga, jabuti-tinga, tartaruga-da-amazônia e tartaruga-pitiú, desde que em criatórios autorizados.
Conservação da fauna, geração de renda, educação ambiental e redução da caça ilegal.
Legislação rigorosa, crescimento lento dos animais, infraestrutura adequada e combate ao comércio ilegal.
Sim, desde que o criador esteja registrado no IBAMA ou órgão estadual e siga todas as normas de manejo e comercialização.
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