Os oceanos são um caldeirão de vida, abrigando milhões de espécies e fornecendo sustento para bilhões de pessoas. No entanto, há partes desses oceanos que se tornaram “zonas mortas”, onde a vida marinha luta para sobreviver e que acaba impactando toda a sustentabilidade do planeta.
Existem mais de 400 zonas mortas confirmadas em todo o mundo, cobrindo mais de 245.000 km², uma área maior do que o Reino Unido.
Por isso, neste artigo, vou te explicar o que são zonas mortas, como elas se formam, os impactos que causam na vida e nos ecossistemas marinhos e as soluções que podem ajudar a reverter esse problema.
Então, se você se preocupa com a saúde dos nossos oceanos e a sustentabilidade do nosso planeta, continue lendo para descobrir como podemos enfrentar juntos esse desafio.
O que são zonas mortas nos oceanos?
Zonas mortas são áreas nos oceanos ou grandes lagos onde o nível de oxigênio dissolvido é tão baixo que a maioria das espécies marinhas não consegue sobreviver.
Causas das zonas mortas nos oceanos
Mas, como isso acontece? Bom, tudo começa quando nutrientes como nitrogênio e fósforo, presentes na água, aumentam demais. Isso se chama eutrofização. Esse excesso de nutrientes é proveniente de várias fontes, como escoamento agrícola, esgotos não tratados e atividades industriais.
Imagine que esses nutrientes são como a comida favorita de algas minúsculas que vivem na água. Se tem muita comida (nutrientes), as algas crescem rapidamente, em uma explosão chamada floração de algas.
Quando a festa das algas acaba, e toda aquela comida se esgota, as algas morrem. As bactérias então entram em cena, comendo as algas mortas. Mas as bactérias precisam de oxigênio para fazer isso. Então, enquanto comem as algas, as bactérias usam todo o oxigênio disponível na água.
Quando as bactérias usam todo o oxigênio, o que sobra para os peixes e outros animais marinhos? Infelizmente, quase nada. E é por isso que chamamos essas áreas de “zonas mortas”. Assim, a falta de oxigênio dificulta a sobrevivência dos animais marinhos, causando grandes danos a todo o ecossistema.
Como se identifica uma zona morta?
Identificar uma zona morta no oceano geralmente envolve a coleta e análise de vários tipos de dados. A seguir eu trago alguns indicadores-chave que os cientistas usam para determinar se uma área do oceano é uma zona morta:
- Níveis de oxigênio dissolvido: esta é talvez a medida mais crítica. Em geral, uma zona morta é definida como uma área com níveis de oxigênio dissolvido inferiores a 2 miligramas por litro (mg/L). No entanto, muitas espécies marinhas começam a sofrer estresse quando os níveis caem abaixo de 5 mg/L.
- Presença de algas: as zonas mortas são geralmente precedidas por uma proliferação excessiva de algas, ou florações de algas, causada pelo excesso de nutrientes (principalmente nitrogênio e fósforo), como te expliquei acima. Assim, os cientistas monitoram as algas através de amostras de água e, às vezes, de imagens de satélite.
- Monitoramento da fauna marinha: a observação de animais marinhos também pode fornecer pistas. Se os pesquisadores notarem que os peixes e outros animais marinhos estão morrendo ou se movendo para longe de uma área específica, isso pode ser um sinal de que uma zona morta está se formando.
- Níveis de nutrientes: altos níveis de nutrientes, como nitrogênio e fósforo, podem indicar que uma área está em risco de se tornar uma zona morta, pois esses nutrientes podem levar à proliferação de algas.
- Condições físicas: a temperatura da água, a salinidade e as correntes oceânicas são fatores importantes que influenciam a quantidade de oxigênio que a água pode conter e a sua distribuição.
Essas informações são coletadas por meio de várias técnicas, incluindo a utilização de sensores remotos, como satélites e drones, bem como o monitoramento no local, onde os pesquisadores coletam amostras de água diretamente do oceano para análise em laboratório.
Impactos negativos das zonas mortas nos oceanos
As zonas mortas nos oceanos têm efeitos devastadores tanto para a sustentabilidade dos ecossistemas marinhos quanto para as comunidades humanas que dependem desses ecossistemas.
1. Destruição de habitats marinhos
As zonas mortas causam danos significativos aos habitats marinhos, afetando áreas onde diversas espécies vivem e se reproduzem. Por isso, organismos marinhos que não podem se deslocar para longe das áreas afetadas enfrentam dificuldades para encontrar alimentos e refúgios adequados. Os corais, por exemplo, são altamente sensíveis à baixa disponibilidade de oxigênio e podem perecer em zonas mortas.
2. Redução da biodiversidade
Além de destruir os habitats de muitas espécies, a falta de oxigênio nas zonas mortas também afeta diretamente a vida marinha. Dessa forma, muitas espécies de peixes, crustáceos, moluscos e outros organismos marinhos não conseguem sobreviver nessas condições. Então, como resultado, ocorre uma diminuição da diversidade de espécies e à perda de importantes cadeias alimentares nos ecossistemas costeiros.
3. Impacto na pesca
As zonas mortas têm um impacto direto também nas atividades de pesca. Isso porque elas reduzem drasticamente a quantidade e a diversidade de peixes disponíveis para a pesca comercial e de subsistência.
Assim, os pescadores enfrentam dificuldades para encontrar peixes em número suficiente para sustentar suas comunidades. Além disso, também podem ser forçados a se deslocarem para áreas mais distantes em busca de recursos pesqueiros.
4. Desafios para a segurança alimentar
A redução da disponibilidade de peixes e outros frutos do mar provenientes de zonas mortas pode afetar ainda a segurança alimentar de comunidades costeiras e de pessoas que dependem desses recursos como fonte principal de alimento e renda. Consequentemente, a escassez de peixes saudáveis e nutritivos pode resultar em impactos socioeconômicos negativos para essas comunidades.
As zonas mortas afetam toda a sustentabilidade!
É importante também ressaltar que os impactos das zonas mortas não se limitam apenas aos ecossistemas marinhos, mas também afetam diretamente a sustentabilidade das atividades humanas que dependem desses ecossistemas.
Por exemplo, a indústria do turismo sofre impactos negativos, pois a degradação dos ecossistemas marinhos nas áreas costeiras com zonas mortas diminui sua atratividade.
Um estudo publicado no Journal of Travel Research em 2017 demonstrou que a atividade turística na costa do Golfo do México nos Estados Unidos caiu em até 30% devido à presença de zonas mortas.
Inclusive, esta área é uma das maiores zonas mortas do mundo. Ela se forma anualmente devido ao escoamento dos nutrientes provenientes da agricultura intensiva nas terras próximas.
Estima-se que a zona morta no Golfo do México tenha uma extensão de aproximadamente 14.000 km². Essa área é maior do que a superfície de países como Montenegro e Malta.
Diante deste grave cenário, seria possível reverter esta situação e proteger a sustentabilidade do nosso planeta?
Possíveis soluções para combater as zonas mortas nos oceanos
Há várias maneiras de combater as zonas mortas. Por exemplo:
1. Melhorar as práticas de gestão de fertilizantes
É essencial adotar práticas agrícolas mais sustentáveis para reduzir o escoamento de nutrientes para os rios e oceanos.
Isso pode incluir o uso de fertilizantes de liberação lenta, a implementação de sistemas de irrigação mais eficientes, o manejo adequado dos solos e o estabelecimento de faixas de vegetação nas áreas de cultivo para ajudar a filtrar os nutrientes antes que eles alcancem os corpos d’água.
Além disso, conscientizar os agricultores sobre as melhores práticas de manejo de nutrientes também é fundamental para garantir uma agricultura mais sustentável.
2. Tratamento adequado dos esgotos
Tratar eficientemente os esgotos urbanos e industriais antes de descartá-los no ambiente é igualmente fundamental para reduzir a quantidade de nutrientes que entram nos oceanos.
Assim, é preciso implementar sistemas de tratamento avançados e monitorar rigorosamente a qualidade da água para garantir a remoção adequada dos nutrientes antes do descarte.
3. Restauração de habitats de zonas úmidas
As zonas úmidas, como pântanos e manguezais, atuam como filtros naturais, absorvendo e retendo nutrientes antes que eles alcancem os oceanos.
Por isso, restaurar, conservar e proteger esses habitats costeiros é essencial para ajudar a reduzir o escoamento de nutrientes e prevenir a formação de zonas mortas.
4. Conscientização e educação
Mais um ponto fundamental para evitar o problema das zonas mortas nos oceanos é a conscientização de que estas áreas existem e quais os impactos que causam. E claro, é preciso que todos entendam a importância de proteger os oceanos.
Então, é necessário desenvolver programas de educação ambiental que informem comunidades costeiras, pescadores, agricultores e o público em geral sobre as causas e consequências das zonas mortas, bem como as medidas que eles podem adotar para prevenir sua ocorrência.
Lembre-se: cada pequena ação que adotamos pode fazer a diferença. E, juntos, podemos combater as zonas mortas nos oceanos e proteger a sustentabilidade dos nossos ecossistemas marinhos.
Resumo sobre as zonas mortas nos oceanos com perguntas frequentes
Zonas mortas são áreas nos oceanos com baixíssimos níveis de oxigênio, insuficientes para a vida marinha prosperar. Peixes, crustáceos e outros organismos não conseguem sobreviver nessas regiões, que se assemelham a desertos submarinos.
O principal responsável é o excesso de nutrientes, como nitrogênio e fósforo, que escoam dos rios e atividades humanas para o mar. Esses nutrientes alimentam o crescimento explosivo de algas, que, ao morrerem, consomem grande parte do oxigênio da água.
A falta de oxigênio leva à morte de peixes, crustáceos, mamíferos marinhos e outros organismos, causando desequilíbrios nos ecossistemas marinhos.
A extinção local de espécies e a redução da variedade de vida marinha comprometem a riqueza biológica dos oceanos.
A diminuição da população de peixes afeta a pesca artesanal e industrial, prejudicando comunidades costeiras que dependem dessa atividade.
Reduzir o uso de fertilizantes na agricultura e tratar adequadamente o esgoto doméstico e industrial são medidas essenciais para diminuir o aporte de nutrientes nos oceanos.
Adotar técnicas agrícolas que minimizem o escoamento de nutrientes, como a rotação de culturas e o manejo do solo, é crucial para a saúde dos oceanos.
Informar o público sobre o problema das zonas mortas e incentivar mudanças de hábitos de consumo, como a redução do desperdício de alimentos, contribui para a busca de soluções.
O futuro das zonas mortas depende das ações que tomarmos hoje. Se continuarmos poluindo os oceanos com nutrientes, essas áreas asfixiadas continuarão a se expandir, com consequências graves para a vida marinha, a economia costeira e o equilíbrio dos ecossistemas oceânicos.
Referências de pesquisa
Relatórios e Publicações Científicas:
- “Ocean Dead Zones: A Review” por Robert J. Diaz e Robyn Rosenberg (2008)
- “Global Assessment of Marine Hypoxia and Eutrophication” por the Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) (2019)
- “Emerging Topics in Marine Biology: Environmental Drivers of Hypoxia” por Joachim Rosenthal et al. (2022)
Sites e Organizações:
- Ecossistemas Costeiros e Marinhos do Brasil
- Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
- National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA)
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