Reservas Extrativistas – quando a floresta em pé vale mais que derrubada
“A floresta viva ensina, alimenta e resiste. Quem nela vive, também luta para que ela continue sendo lar, cultura e sustento.” – “As reservas extrativistas (RESEX) são a maior inovação fundiária para a justiça socioambiental no Brasil.” — Chico Mendes, seringueiro, sindicalista e líder ambiental (1944–1988).
O que são reservas extrativistas?
As reservas extrativistas (RESEX) são unidades de conservação de uso sustentável, criadas para proteger os modos de vida e os territórios de populações tradicionais e empoderamento das comunidades — como seringueiros, castanheiros, pescadores e ribeirinhos — ao mesmo tempo que garantem a preservação dos recursos naturais.
Criadas a partir das lutas de líderes como Chico Mendes, essas áreas são geridas coletivamente e permitem o uso sustentável de produtos florestais não madeireiros, como látex, frutos, óleos, fibras e peixes, sem degradar os ecossistemas.
Diferente das reservas de proteção integral, as RESEX mantêm as comunidades vivendo e produzindo na floresta, reconhecendo seus direitos e seus saberes como parte da conservação.
Principais objetivos das reservas extrativistas
- Garantir o uso sustentável dos recursos naturais renováveis;
- Reconhecer e proteger o modo de vida tradicional das populações extrativistas;
- Evitar o avanço do desmatamento, da grilagem e da mineração ilegal;
- Fortalecer a economia de base comunitária, com produtos florestais não madeireiros;
- Preservar culturas, línguas, rituais e conhecimentos ancestrais.
Além disso, as RESEX desempenham um papel crucial no combate às mudanças climáticas, ao manterem grandes áreas de vegetação nativa protegidas e em regeneração.
Quais são os tipos de reservas extrativistas?
As reservas extrativistas podem ser classificadas de acordo com o bioma, o tipo de recurso explorado e as características culturais das populações que as habitam. No Brasil, os dois principais tipos são:
1. Reservas Extrativistas Terrestres
Estão localizadas principalmente em florestas tropicais e outros ecossistemas continentais. São voltadas à extração sustentável de produtos florestais não madeireiros, como, por exemplo:
- Borracha (látex da seringueira);
- Castanha-do-pará;
- Óleos vegetais (andiroba, copaíba, buriti);
- Frutos nativos (açaí, bacaba, tucumã);
- Fibras, cipós, sementes e resinas.
Essas reservas geralmente estão em áreas remotas da Amazônia ou na transição Cerrado-Amazônia, e suas populações dependem da floresta para sobreviver, mantendo práticas ancestrais de manejo.
2. Reservas Extrativistas Marinhas
Conhecidas também como RESEX costeiras e marinhas, são destinadas a comunidades tradicionais de pescadores artesanais. Nelas, a extração de recursos é feita principalmente do ambiente marinho e costeiro, incluindo, principalmente:
- Peixes, moluscos e crustáceos (como, por exemplo, caranguejo e marisco);
- Alga marinha e outros recursos renováveis do oceano;
- Atividades complementares como artesanato de conchas e turismo comunitário de base sustentável.
Essas reservas ajudam a proteger manguezais, recifes de corais, estuários e praias, garantindo assim o sustento de milhares de famílias e a conservação dos ecossistemas costeiros — hoje entre os mais ameaçados do planeta.
Em ambas as categorias, as reservas extrativistas são moldadas pela realidade social, ambiental e cultural de cada região. Por isso, seus planos de manejo são únicos e desenvolvidos com a participação direta das comunidades locais.
Onde estão as reservas extrativistas no Brasil?
Atualmente, o Brasil possui mais de 90 reservas extrativistas federais, espalhadas principalmente na região Norte (principalmente na Amazônia Legal), além de algumas no Nordeste e no litoral. Exemplos importantes incluem:
- Reserva Extrativista Chico Mendes (AC) – símbolo da luta pela floresta e uma das maiores do país;
- RESEX Verde para Sempre (PA) – referência em organização comunitária e biodiversidade;
- RESEX do Rio Cajari (AP) – criada com apoio de políticas do governo federal nos anos 1990;
- RESEX Marinha do Arraial do Cabo (RJ) – exemplo de extrativismo pesqueiro em áreas costeiras.
Essas áreas somam mais de 13 milhões de hectares protegidos, garantindo assim o meio de vida para cerca de 100 mil famílias.
O que se extrai em uma reserva extrativista?
As reservas extrativistas trabalham com produtos não madeireiros, ou seja, que não exigem o corte de árvores para serem comercializados. Principalmente:
- Borracha (látex de seringueira);
- Castanha-do-pará;
- Açaí, copaíba, andiroba, buriti e outros frutos e óleos;
- Pescado artesanal (em RESEX marinhas e ribeirinhas);
- Artesanato de fibras, cipós e sementes.
Esses produtos geram renda, mantêm a floresta em pé e fortalecem a economia solidária e os circuitos curtos de comercialização.
Por que as reservas extrativistas são estratégicas para a sustentabilidade?
Porque elas combinam principalmente:
- Conservação ambiental com justiça social;
- Autonomia comunitária com uso racional dos recursos;
- Combate ao desmatamento com valorização da floresta viva;
- Economia regenerativa com proteção de saberes ancestrais.
Além disso, dados do Plataforma MapBiomas (2024) indicam que as RESEX têm taxas de desmatamento até 7 vezes menores do que áreas privadas do entorno, comprovando, portanto, a sua eficácia como modelo de conservação com pessoas dentro.
Principais ameaças às reservas extrativistas
Apesar de sua importância, as RESEX enfrentam diversos desafios, por exemplo:
- Pressão de madeireiros, grileiros e garimpeiros ilegais;
- Redução de investimentos públicos em fiscalização e infraestrutura;
- Dificuldade de acesso a mercados para os produtos extrativistas;
- Conflitos fundiários e insegurança jurídica;
- Desvalorização do conhecimento tradicional e do papel das comunidades locais.
Portanto, sua permanência e expansão dependem de políticas públicas firmes, apoio à educação ambiental e fortalecimento da organização comunitária.
Como apoiar as reservas extrativistas?
- Consumindo produtos da socio biodiversidade com certificação de origem ou comércio justo;
- Fortalecendo as cadeias solidárias que valorizam o extrativismo sustentável;
- Pressionando por investimentos públicos e respeito ao direito territorial das comunidades;
- Apoiando organizações como o CNS (Conselho Nacional das Populações Extrativistas), o ISA (Instituto Socioambiental) e a Comissão Pró-Índio;
- Divulgando as histórias e conquistas dessas populações, muitas vezes invisibilizadas.
Dados atualizados sobre RESEX no Brasil (2025)
Indicador | Valor |
---|---|
Reservas extrativistas federais | 93 |
Área total protegida (hectares) | +13 milhões |
Famílias beneficiadas | ~100 mil |
Tipos de produtos extraídos | +150 |
Taxa de desmatamento nas RESEX | 0,3% ao ano |
RESEX marinhas | 23 áreas |
Recomendações para um futuro mais sustentável
- Criar linhas de financiamento específicas para extrativismo comunitário;
- Ampliar a presença do Estado nas RESEX com infraestrutura e assistência técnica;
- Implementar educação intercultural voltada aos modos de vida tradicionais;
- Investir em certificação e comercialização direta dos produtos extrativistas;
- Estimular parcerias entre comunidades e redes de consumidores conscientes.
Em conclusão
As reservas extrativistas são um dos principais exemplos de conservação com justiça social existentes no mundo. Criadas a partir da luta de povos tradicionais, elas mostram que proteger a natureza não exige excluir o ser humano — pelo contrário, exige reconhecer seu papel como guardião e parte da própria biodiversidade. Investir nas RESEX é apostar em um Brasil mais justo, verde e sustentável.
Perguntas e respostas para reflexão crítica
Não. Ao contrário, elas oferecem um modelo alternativo de desenvolvimento sustentável, baseado em justiça social e, principalmente, o uso racional dos recursos.
Sim. Porém, quando bem manejado, o extrativismo mantém a floresta viva e fortalece comunidades.
Na maioria das vezes, sim. Por exemplo, o modelo de monocultura extensiva e uso de agrotóxicos entra em conflito com o extrativismo sustentável.
Sim, mas carecem de fiscalização constante e respeito aos direitos das comunidades.
Sim. Diversas pesquisas já demonstraram que a economia da sociobiodiversidade pode gerar mais renda no longo prazo e com menos impacto ambiental.